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Foto: Renata Larroyd
Crise do plástico: Brasil lidera descarte de resíduos no mar entre países latino-americanos
O monitoramento da crise do plástico e seus impactos na biodiversidade marinha da costa brasileira tem acendido o alerta amarelo entre pesquisadores e especialistas. Enquanto essa forma de poluição configura a segunda maior crise ambiental da história — conforme apontado pela Organização das Nações Unidas —, seus efeitos sobre a fauna marítima vêm mobilizando ações estratégicas de comissões e conselhos da ONU em preparação para junho deste ano. Essas discussões têm como base o relatório "Fragmentos da Destruição: impactos do plástico à biodiversidade marinha brasileira", publicado pela Oceana.
O estudo, desenvolvido com a colaboração de cientistas brasileiros, aponta que o Brasil lance no mar cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos a cada ano — um volume equivalente ao peso de 1,3 milhão de carros de pequeno porte. Colocando o país entre os 10 maiores poluidores do mundo e como líder na América Latina, a pesquisa traça um retrato abrangente dos impactos do plástico sobre diversas espécies marinhas da costa brasileira, como moluscos, aves, peixes, tartarugas e mamíferos. A publicação também atualiza dados apresentados na ata "Um Oceano Livre de Plástico – desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil", de 2020.
Diante desse cenário alarmante, o Tratado Global de Plásticos, firmado em 2022, propõe a regulamentação de todo o ciclo de vida do plástico — da produção à reciclagem — com o objetivo de conter de forma mais eficaz a poluição global. Conhecido como o “Acordo de Paris do plástico”, o tratado tem despertado o interesse do Poder Público brasileiro, especialmente em razão dos compromissos diplomáticos ambientais assumidos pelo país, conforme destaca nota oficial recente do Senado Federal, divulgada no final de março.
Com as atenções voltadas para si, a Organização das Nações Unidas propôs para junho de 2025 a “Conferência do Oceano”, a fim de avaliar os avanços do Tratado Global de Plásticos — marco categórico para o fortalecimento dos compromissos globais. Liu Berman, diretora do Maré de Mudanças, embaixadora do Movimento Reinventando Futuros e Especialista em Territórios Criativos e Sustentáveis, destaca a importância da iniciativa, ao afirmar que "A Conferência do Oceano de 2025 é um momento essencial para pressionar por decisões concretas sobre a poluição plástica. O grande desafio será transformar compromissos em ações efetivas".
Apesar dos avanços, desafios permanecem. A resistência de países com economias fortemente ligadas à produção de plásticos e derivados do petróleo continua sendo um obstáculo significativo nas negociações. "Os interesses econômicos na indústria do plástico são uma barreira real, mas os avanços até agora demonstram que há um consenso crescente sobre a necessidade de mudar o modelo econômico para algo mais responsável ambientalmente", aponta a especialista.
A poluição plástica nos oceanos se conecta a outras questões ambientais, como a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas e a sobrepesca. "Reduzir o uso de plástico é apenas uma parte do problema. Precisamos compreender o impacto disso nos ecossistemas e nas comunidades costeiras que dependem dos oceanos para sobreviver", ressalta Liu. O aumento da presença de microplásticos em alimentos e na água potável é outro fator que reforça a urgência de regulamentações mais rigorosas sobre a produção e descarte de plásticos.
O setor privado também desempenha um papel crucial. A adoção de modelos de negócios sustentáveis é uma das principais demandas para a Conferência de 2025. A especialista também acredita que regulamentações mais rígidas sobre plásticos não devem ser vistas apenas como exigências, mas como oportunidades de inovação para o setor empresarial. As expectativas para a Conferência do Oceano da ONU 2025 são altas.
"Indústrias pesqueiras, energéticas e turísticas precisam adotar medidas sustentáveis, como reduzir emissões de carbono e investir em economia circular", destaca a especialista. "Precisamos de medidas concretas que vão além do discurso. O momento de agir é agora", conclui Liu.
Por Glaucia Pinheiro