
Foto: Divulgação
Guerra comercial entre EUA e China impulsiona mercado de fazendas no Brasil
A disputa econômica internacional, intensificada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e focada na China, continua a gerar desdobramentos surpreendentes no cenário global. Retaliando a taxação imposta pelos EUA, o governo chinês suspendeu a compra de carne bovina de mais da metade dos fornecedores americanos. Além disso, nesta sexta-feira (11 de abril), o país asiático acelerou negociações para adquirir soja brasileira, substituindo a importação do grão norte-americano. Essas mudanças prometem beneficiar amplamente o agronegócio brasileiro e impactar diretamente o mercado imobiliário rural, com a necessidade crescente de mais terras para atender à demanda chinesa.
Especialistas acreditam que os investidores nacionais e internacionais estão de olho nas oportunidades de expansão no Brasil, seja por meio da compra de terras ou do investimento em tecnologia para aumentar a produtividade agrícola. No entanto, as barreiras legais limitam a aquisição de propriedades rurais por estrangeiros, o que pode direcionar fluxos de capital para outras formas de apoio à produção. “A legislação brasileira restringe o tamanho e quantidade de terras que estrangeiros podem adquirir. Isso não impede, porém, investimentos significativos em tecnologia agrícola, que ampliem a produtividade no campo. Com nossa vasta capacidade de terras agricultáveis, o impacto será extremamente positivo para o Brasil”, analisa Adenauer Rockenmeyer, delegado do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP) e coordenador do Fórum de Agronegócio e Agricultura Familiar.
Entretanto, segundo Rockenmeyer, nem tudo será tão simples. Ele destaca o desafio de aumentar rapidamente a oferta de carne bovina e grãos como soja e milho. “Em 2024, muitos produtores brasileiros abateram suas matrizes envelhecidas. Embora o processo de renovação esteja em andamento, leva alguns anos para os bezerros atingirem a maturidade. Culturas agrícolas também exigem tempo para preparo, plantio e colheita. Ainda que a substituição do mercado americano pelo chinês não seja imediata, os agropecuaristas brasileiros devem agir com agilidade para atender a demanda”, explica.
A tecnologia desponta como um elemento essencial para maximizar a produção e atender os novos pedidos, mas a expansão de fazendas será inevitável, movimentando não apenas o setor rural, mas também diversas cadeias produtivas como fertilizantes, agrotóxicos, infraestrutura de armazenagem e logística. “O horizonte é positivo. Direcionar exportações para a China e depois para a Europa oferece ao Brasil um ganho de escala significativo. Contudo, o aumento da demanda por terras deve elevar o preço do hectare, algo que precisamos monitorar de perto”, alerta Rockenmeyer.
As primeiras evidências desse impacto já estão sendo observadas. Geórgia Oliveira, CEO da plataforma Chãozão, especializada em anúncios de propriedades rurais, revelou um crescimento expressivo na busca por fazendas na última semana. “Notamos um aumento de 40% nas consultas, especialmente por fazendas voltadas à produção de soja e criação de bovinos, dos quais metade está concentrada em propriedades para arrendamento agrícola em Goiás e Mato Grosso. Apesar disso, os preços ainda não subiram, mas é provável que os valores sejam ajustados em breve conforme a procura cresce”, comenta.
Com a movimentação do mercado, Geórgia Oliveira já começou a revisar as projeções da plataforma para este ano. “Inicialmente, nossa estimativa era um crescimento de 60% no número de anúncios de propriedades rurais. No entanto, com esse novo cenário, esperamos um salto expressivo, de mais de 200%, tanto na procura por interessados quanto no volume de anúncios de propriedades disponíveis. A tendência é clara: o interesse está crescendo, e estamos nos preparando para acompanhar essa demanda com agilidade e eficiência”, destaca.
A expectativa é de que o mercado de terras e o agronegócio brasileiro se transformem substancialmente nos próximos meses, impulsionados por um novo ciclo de investimentos e pela reconfiguração do comércio global. Com isso, o Brasil se posiciona em uma situação estratégica e privilegiada neste capítulo da guerra comercial entre EUA e China.
Por Andrezza Oliveira