
Foto: João Botelho
De Cajazeiras à Canabrava, empreendedores celebram a valorização de botecos nas periferias de Salvador
O aroma da cozinha de raiz está tomando conta dos bairros de Pernambués, Plataforma, Canabrava, Capelinha, Lobato, Liberdade e Baixa dos Sapateiros. Isso porque essas regiões seguem festejando os 25 anos de tradição do Comida di Buteco com temperos, iguarias e ingredientes secretos. Em Cajazeiras V, por exemplo, não é diferente. A novidade é por conta dos mini pastéis de camarão com queijo, cupim com cebola caramelizada, siri catado e bacalhau com cream cheese. Parece até comida à quilo, mas na verdade é o petisco “Mine's Di Buteco”, prato concorrente pelo Point do Gigante
– localizado em Cajazeiras V, rua Álvaro da França Rocha, 5, quadra B.
Vendo seu comércio aquecer em um ritmo histórico, o empreendedor Petrônio Mascarenhas afirma que desde os preparativos para o Comida di Buteco 2025, o point vem passando por uma verdadeira valorização. "Desde
antes do CDB começar, o impacto foi surreal. Deu um ‘up’ no Point, me
deu força, revigorou não só a mim, enquanto dono, mas toda a equipe.
Estamos focados, queremos ser os primeiros e no ano que vem, com
certeza, estaremos de volta", explica. Segundo Petrônio,
o negócio deixou a informalidade, tornou-se uma microempresa e, com
isso, começou a atrair clientes de todas as regiões de Salvador. O
aumento do movimento, por causa do concurso, abriu caminho para novas
parcerias com fornecedores e permitiu investir em estrutura, equipe e visibilidade — avanços que, até pouco tempo, pareciam distantes da realidade de um empreendedor periférico. O dono do Point do Gigante
revela que o impacto vai além das vendas: a energia no estabelecimento
mudou. Ele e os funcionários agora trabalham com metas, mais engajados e
confiantes no futuro. Para um primeiro ano, Petrônio diz que a caminhada tem sido promissora, e o objetivo é claro: chegar à etapa nacional e ao pódio de “Melhor Buteco do Brasil”. Em 2025, Salvador deve ultrapassar a marca de 38 mil votos e gerar um impacto econômico estimado em 4 milhões na vida de empreendedores locais, segundo projeções da organização. Até o dia 11 de maio, o Point do Gigante e outros 58 estabelecimentos participantes disputam o páreo e o paladar de baianos e turistas, celebrando transformações econômicas e socioculturais nos bairros. Desde a chegada do CDB à capital baiana em 2009, o concurso tem transformado a vida de milhares de famílias. Naquele primeiro ano, apenas 31 bares participaram da iniciativa, quase todos em regiões centrais da cidade. Em 2024, entretanto, a capital baiana já registrava 56 bares inscritos, sendo 26 estreantes, e neste ano o número subiu para 59 – consolidando a cidade como uma das mais engajadas no circuito nacional. Hoje, o concurso alcança empreendedores afastados do Centro e aquece a economia local das periferias. Segundo Max Rogers, coordenador regional do concurso, a edição comemorativa é um marco. “Os
25 anos do Comida di Buteco não é apenas uma festa. É a celebração de
um movimento que fortaleceu milhares de famílias e microempreendedores
em todo o Brasil. Salvador se destaca nesse cenário por abraçar a
proposta com tanta paixão e autenticidade. A cada ano, mais bares se
inscrevem, mais histórias surgem, e mais vidas são transformadas pela
cultura de boteco”, afirma. Quando o assunto é transformação e valorização do espaço, Canabrava é representada pelo Crisana – localizado na Artêmio Castro Valente, 295, Espaço Comercial Paralela. Nascido no seio familiar dos pais de Ana Cristina, o que era um pequeno box de bairro evoluiu ao longo dos anos, tornando-se o sustento da família. Hoje, comandado por Ana, sua cunhada Magali e seus respectivos maridos, o Crisana é
sinônimo de comida caseira e atendimento acolhedor, ajudando a
ressignificar a imagem dos bares de periferia e seus estigmas antigos. “A
visibilidade que o concurso trouxe foi algo que a gente, aqui da
periferia de Canabrava, jamais teria. Isso é sentido também pela
clientela. Foi nesse box que meus pais custearam minha adolescência,
meus estudos e agora é esse boteco que também ajuda a criar meus filhos.
Mas as coisas mudaram. Hoje não atendemos só o público local. Houve sim
uma valorização dos nossos comércios e nos reinventamos por causa do
CDB. Começamos a melhorar nosso Instagram, organizar mais a casa, bolar
petiscos especiais, contar histórias e até hoje, todo cliente que chega
vai encontrar um de nós por aqui — eu, Magali, alguém da família. Essas
são algumas das transformações que o concurso trouxe e que nunca iremos
esquecer”, conclui. Para a edição de 2025, o veterano Crisana mistura sabores nordestinos com um toque de Minas no intitulado “Mineirando na Bahia”: carne nordestina bem temperada, acompanhada de farofa d’água, cebolinha, geleia de rubras, pão artesanal e molho da casa. Como surgiu o Comida di Buteco? Criado em 1999 durante uma confraternização da Rádio Geraes, o Comida di Buteco surgiu da união de João Guimarães e Maria Eulália Araújo com o objetivo de valorizar a cozinha de raiz e os tradicionais botecos de Belo Horizonte. Em 2000, o concurso teve sua edição inaugural com 10 participantes e rapidamente conquistou público e crítica. Com
a extinção da Rádio Geraes em 2005, o CDB tornou-se independente e
expandiu-se nacionalmente, alcançando cidades como Rio de Janeiro,
Salvador e São Paulo. Em 2016, foi realizada pela primeira vez a etapa nacional, que elege o melhor boteco do Brasil, consolidando ainda mais o concurso como referência gastronômica. Em 2023, o evento chegou a 25 circuitos e 1.000 botecos participantes,
reforçando sua presença nas cinco regiões do país. Para este ano, o
Comida di Buteco comemora 25 anos de história, sendo reconhecido por
promover a gastronomia popular e impulsionar pequenos negócios por meio
de experiências físicas e digitais. Por Glaucia Pinheiro