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Foto: Divulgação
Nova exposição de Chico Mazzoni retrata o sagrado, o profano e o afro-brasileiro em pintura contemporânea no Museu da Misericórdia da Bahia
O sagrado, o profano e o afro-brasileiro se revelam de forma surpreendente, em expressões contemporâneas inspiradas no estilo barroco, na nova exposição do artista plástico baiano Chico Mazzoni: Excelsos Excessos – Reciclagem do Barroco, que será inaugurada no dia 1º de agosto (sexta-feira), às 18h, no Museu da Misericórdia da Bahia (Salvador). A mostra reunirá 28 telas repletas de simbologias e representações, que estarão integradas às preciosas peças do acervo do Museu da Misericórdia, realizando assim, como diz Mazzoni, “o necessário contraponto entre o barroco legítimo e as minhas interpretações contemporâneas dele, esperando que isto traga ao público revelações inesperadas”. A exposição também contará com a contribuição da artista visual Goya Lopes, que tem uma vasta obra baseada na cultura afro-brasileira e estará presente com duas peças da sua nova série, que serão expostas pela primeira vez
Artista plástico, arquiteto e professor, mestre em Restauro dos Monumentos pela Universidade de Nápoles, Chico Mazzoni celebra 42 anos de carreira nas Artes Plásticas trazendo o barroco, com seus “excelsos excessos”, aliado à contemporaneidade em pinturas em tinta acrílica e acrílica em baixo relevo, além de outras técnicas de expressão plástica, como a colagem de lâminas aluminizadas recicladas, originalmente utilizadas como embalagem de alimentos e invólucros de comprimidos. “Estes novos elementos metálicos e plásticos, agora incorporados às telas, começam a se desprender das mesmas na busca de uma expressão tridimensional, como no estilo barroco. Isto também fala dos excessos de objetos que nos circundam, na vida contemporânea, que precisam ser descartados ou reciclados”, observa Mazzoni.
Excelsos Excessos – Reciclagem do Barroco, 21ª exposição individual de Chico Mazzoni, é resultado de 8 anos de trabalho do artista, que sempre teve o barroco como inspiração na sua trajetória profissional. “O barroco e seu imaginário me instigam, desde que me entendo por gente”, conta. Mas foi em Lisboa, em 2017, durante uma visita à igreja barroca de São Roque, que veio o que Chico chama de epifania para a criação desse atual trabalho. “Parece que somente naquele inesperado templo e momento eu tenha podido entender suficientemente as matrizes desse barroco luso brasileiro que eu tanto consumia, ao longo de todos esses anos, e recebido a mensagem da minha nova missão: reinterpretar tudo isto em pintura contemporânea, e assim foi”.
Aquele momento de inspiração profunda, relembra Mazzoni, o fez refletir muito sobre o barroco brasileiro em relação ao barroco português e como havia uma regionalização, uma mestiçagem desse barroco, tanto que na exposição tem uma zona toda dedicada ao afro-brasileiro. “É uma exposição feita com muito carinho, com muito cuidado e com o acúmulo de informações que eu venho trazendo ao longo de minha vida inteira sobre o barroco, que sempre me inspirou e me deixou muito motivado, e agora eu pude realizar isso em arte contemporânea, reinterpretar esse barroco em pintura contemporânea”, comemora.
A mostra reúne 28 telas quadradas com dimensões variando de 1x1m a 0,80x0,80m, e duas medindo 0,30x0,30m e 0,50x0,50m, distribuídas em três linhas temáticas: a dos Sagrados, com alguns de seus quadros ao lado das peças originais barrocas, que lhes inspiraram; a dos Profanos; e uma em homenagem à cultura Afro-brasileira, presente no período abordado, e contando ainda com a contribuição da artista visual Goya Lopes, que tem uma vasta obra baseada nesta cultura e estará presente com duas peças da sua nova série, que serão expostas pela primeira vez.
Serviço
Exposição: Excelsos Excessos – Reciclagem do Barroco
Artista: Chico Mazzoni
Local: Museu da Misericórdia da Bahia (Rua da Misericórdia, 06, Praça da Sé, Salvador)
Abertura: 1º de agosto, das 18h às 22h
Visitação: de 2 a 30 de agosto (de terça a sexta, das 9h às 17h; sábados, das 9h às 16h30. O museu fecha aos domingos, segundas-feiras e feriados)
Realização: Chico Mazzoni ARTE & ARQUITETURA Ltda.
Assessoria de produção: Expoart
Assessoria de imprensa: (71) 99972-7322 (Adriana Patrocínio)
O artista
Chico Mazzoni (Salvador) é graduado em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e mestre em Restauro dos Monumentos pela Universidade de Nápoles, Itália. Aos 13 anos já colocava pinturas (óleo sobre tela) em uma mostra coletiva intercolegial, no Gabinete Português de Leitura. Mais tarde chegou a elaborar cenografias para o teatro baiano, período em que experimentou uma nova linguagem: desenho sobre papel (várias técnicas, especialmente pastel a óleo).
No fim dos anos 1970, enquanto fazia o mestrado em Restauro dos Monumentos, participou de uma mostra coletiva em Florença e de uma Bienal de Arte em Nápoles, e visitou vários centros de arte europeus buscando aprimorar a técnica do desenho. Ao longo de sua trajetória alternou suas atividades artísticas com o trabalho de arquiteto, restaurador, cenógrafo e designer.
Sua primeira exposição individual, Chico Mazzoni - Desenhos, foi em 1983, na galeria da Aliança Francesa, em Salvador. A partir daí inicia a trajetória profissional que inclui mostras coletivas e salões na capital baiana e cidades como São Paulo, Viena e Londres.
Em 1984 inaugurou sua fase de pintura acrílica sobre papel e papelão com as exposições Imaginália, Arte-de-Cor (1985) e Cena & Ótica (1987). No fim da década mostra DeZENho, no Museu de Arte da Bahia, em busca do traço nas formas simplificadas, ou seja, do zen na arte. A preocupação com o ponto de equilíbrio permaneceu em Par ou Ímpar (1990).
Alternando atividades, ele foi professor dos cursos de Especialização em Restauro e da graduação em Arquitetura, na Ufba e Universidade Salvador (Unifacs). Enquanto isso, na arte pesquisou a luminosidade na pintura, resultando nas exposições Por Esta Luz que Me Alumia (1995), Estação da Luz (1997) e Milênios no Ar (2000), sua maior exposição individual, montada no Bahia Design Center.
Artista selecionado para compor a 6ª edição da Southward Art – Latin American Art Review (2002), comemorou seus 20 anos de carreira com Brasiliana, seu trabalho de maior repercussão. Em 20 telas, Chico refletiu e reinterpretou as identidades brasileiras em uma produção que sintetizou todo seu longo aprendizado do manejo das linguagens plásticas. Dois quadros desta mostra, representando os “caboclos do 2 de julho baiano”, foram incorporados à Southward Art Collection, em Buenos Aires, Argentina.
Dando continuidade à exploração do figurativo, realizou Pop Up (2006), lançando um olhar sobre a cultura de massa e imagens universais, iniciando sua pesquisa com a pintura em baixo relevo. Já na exposição Vinte e Cinco - Artes de Chico Mazzoni desde 1983, na Art-Factory, Consulado da Holanda, em 2008, mostrou desenhos, pinturas, material de cenografia e outros materiais que remontam sua trajetória. Em 2010, Mazzoni traz uma proposta inovadora na carreira com a exposição Cidades Invisíveis, apresentando uma trama de linhas, ângulos e perspectivas numa leitura plástica dos centros urbanos.
Comemorando 31 anos de arte na mostra Tramas Sinceras, em 2014, no Palacete das Artes, o artista apresenta tramas imaginárias, frequentadas ao longo de sua trajetória, numa síntese das linguagens artísticas que foram da ultra-figuração adotada em algumas das suas mostras à quase-abstração, a que chegou na mostra anterior. Em Retratos do Mundo Flutuante, em 2017, no MAM, o artista imprime a influência da cultura japonesa em seus trabalhos, “numa busca da paisagem improvável, dos retratos do mundo que flutua na nossa imaginação”.
Na série Excelsos Excessos (2021), apresentando-se pela primeira vez no modo virtual, Chico se inspira no estilo barroco, com seus excelsos excessos, a serviço de sua missão religiosa, contrarreformista, que também se estende às demais zonas laicas da cultura, incluindo novas técnicas de expressão plástica que incorporam, inclusive, a reciclagem de materiais. Esta mostra, revista e complementada, será relançada agora na Excelsos Excessos – Reciclagem do Barroco (2025).
Em Retrato Falado (2023), no Museu Naútico da Bahia, Chico Mazzoni chega à sua 20ª exposição individual concretizando um sonho antigo de trabalhar com retrato, e traz uma série que vai muito além de um projeto de pintura de retratos – Chico procurou, como ele diz, “capturar um sentimento, uma afetividade, um viés importante da alma dos modelos escolhidos”.
Por Adriana Patrocínio