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Foto: Divulgação
Conto - O dia em que virei Carlos Drummond de Andrade - Por Dimas Roque
Deixa eu contar uma história que vale um riso ou dois. Lá nos anos 80, em plena ditadura militar, eu era um jovem revolucionário junto com alguns amigos, éramos frequente nas salas de aula (ou quase isso). Junto com meus amigos secundaristas, a gente fazia vaquinha para participar de encontros de estudantes em cidades como Salvador, Fortaleza e Campinas na luta pela reconstrução da entidade e pela redemocratização do Brasil. Nossa tática era simples: ir às salas de aula, pedir contribuições e esperar que as moedinhas caíssem como um milagre. Às vezes, até caía algo maior que moedas (obrigado, estudantes generosos).
Mas o tempo passou. Hoje, se um estudante ousar entrar numa sala pedindo ajuda, corre o risco de receber apenas olhares de "vaza daqui".
Em 1982, estávamos empenhados na reconstrução da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. E foi aí que me veio uma ideia brilhante (ou nem tanto). Eu gostava de escrever poesias – tão bonitas, modéstia à parte, que até imaginei estampá-las em camisetas brancas e vender para arrecadar um pouco mais. Poeta mercenário? Talvez.
Convenci meu amigo César Alves, um gênio da arte, a pintar a arte para as 20 camisetas. Metade com uma poesia minha e metade com outra (sim, tenho um estoque de inspiração). No dia seguinte, fui armado de esperança para as salas de aula. "Agora vai", pensei. Mas sabe quantas camisetas eu vendi? Nenhuma. Nem pra pagar uma beira seca na cantina.
Lá estava eu, frustrado e quase virando um poeta incompreendido, quando minha professora de português entrou na história. Comprou uma camiseta (obrigado, professora!) e, com a sinceridade de um chute no estômago, disse:
— Se fosse Carlos Drummond de Andrade, todos comprariam.
Fiquei ali, refletindo: "Então o problema não é a poesia. É o nome."
Foi assim que, no dia seguinte, voltei ao César e pedi: "Taca uma tarja preta no meu nome e põe aí: Carlos Drummond de Andrade." E pronto. A mágica do marketing.
Com as camisetas "drummondizadas", voltei às salas de aula. E adivinhe? Vendi tudo. Rápido como passe de mágica. Alguns dias depois encontrei, minha professora:
— E aí, conseguiu vender as camisetas?
— Consegui, professora. Vendi tudo. Só botei o nome Carlos Drummond... dispensei o "Andrade" no final.
Moral da história? O nome certo vende até poesia sobre uma pedra no caminho. Os lucros ajudaram a bancar nossa alimentação nas viagens. E assim, por um breve momento, eu fui Carlos Drummond de Andrade... ou algo próximo disso.
Dimas Roque é Jornalista, cronista, contista e turismólogo.