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Foto: Divulgação
ARTIGO - Desastres ambientais e seguradoras = Ana Beatriz Prudente Alckmin
A cheia do Guaíba em Porto Alegre alterou completamente a rotina
das pessoas que frequentam o centro da cidade. Ônibus deixaram de
circular, e bares e restaurantes não abriram para evitar transtornos. O
nível do Guaíba superou 4,6 metros na tarde de sexta-feira e continua
subindo, após os temporais que atingem o Rio Grande do Sul desde a
última semana. Este é o maior nível registrado desde a enchente
histórica de 1941, quando o rio chegou a 4,76 metros.
A Defesa Civil emitiu um alerta de inundação extrema, válido por
24 horas, pedindo que a população evite áreas próximas ao Guaíba e
locais de risco. A situação tem gerado dúvidas sobre os direitos da
população em relação a indenizações, tanto no que diz respeito às
empresas de seguros quanto ao poder público.
Contratos de seguro envolvem riscos e, em muitos casos, cláusulas
restritivas que limitam a cobertura. O Código de Defesa do Consumidor
determina que qualquer restrição deve ser informada claramente ao
cliente, sob pena de invalidade da cláusula. Além disso, é importante
que consumidores que vivem em áreas de risco busquem cláusulas
específicas que cubram eventos como inundações.
Em relação ao poder público, a Constituição prevê
responsabilidade objetiva para serviços prestados diretamente ou por
concessionárias. Contudo, situações como força maior ou caso fortuito,
como chuvas fora do esperado, podem ser debatidas. Ainda assim, se
houver omissão no cuidado com bueiros ou na manutenção do rio, o poder
público pode ser responsabilizado. Tragédias como essa, além de perdas
humanas, resultam em custos elevados que poderiam ser evitados com
prevenção.
As seguradoras, por sua vez, podem questionar se o consumidor se
expôs deliberadamente ao risco, como tentar atravessar uma área alagada.
A boa-fé é essencial em contratos de seguro, e cabe às seguradoras
provar que o segurado agiu de forma imprudente. Por exemplo, se o
motorista foi surpreendido pela inundação e não teve alternativa, ele
não pode ser responsabilizado.
Para entendermos como a situação se tornou tão dramática, vamos
analisar o que está acontecendo. O principal motivo é geográfico: Los
Angeles está localizada perto de desertos, e os ventos fortes que sopram
dessa região, conhecidos como ventos de Santa Ana, alimentaram e
agravaram os incêndios.
Como podemos observar, a área é montanhosa, o que faz com que o
fogo se espalhe rapidamente pelas colinas. Além disso, o terreno
dificulta o trabalho de combate ao incêndio. Um dos focos mais críticos
atualmente está em Oxnard, perto de Los Angeles, e o fogo continua
completamente fora de controle. Os bombeiros ainda enfrentam outros
quatro grandes incêndios na região.
Especialistas apontam três principais fatores para essa
catástrofe: o período de chuvas excessivas há dois anos, que favoreceu o
crescimento da vegetação; uma seca intensa subsequente, que transformou
a vegetação em combustível altamente inflamável; e as tempestades de
vento nos últimos dias, que tornaram inviáveis as operações aéreas,
essenciais para combater incêndios dessa magnitude.
Além disso, há uma limitação estrutural no combate a incêndios
gigantescos como este, nunca antes vistos na região. Apesar de
investimentos e medidas preventivas, como reservas de água, a demanda
para controlar incêndios de alta severidade é muito maior do que a
necessária para incêndios menores. A preparação, embora existente,
mostrou-se insuficiente para lidar com eventos extremos, que tendem a se
tornar mais frequentes no futuro. Muitos especialistas estão chamando
essa situação de “tempestade perfeita”, uma convergência de diversos
fatores que tornam o controle desses incêndios extremamente difícil.
Desastres naturais, como enchentes, queimadas e vendavais, têm
causado grandes prejuízos em diversas regiões do Brasil, afetando
propriedades, veículos e empresas. Muitos desses danos poderiam ser
mitigados por seguros, mas a falta de conscientização e a subcontratação
de coberturas específicas são barreiras significativas.
Os seguros possuem diferentes coberturas para cenários variados.
Danos causados por enchentes em veículos são geralmente cobertos, desde
que o proprietário não agrave o risco, como ao tentar atravessar áreas
alagadas. Para propriedades, as coberturas de alagamentos são limitadas
ou pouco contratadas em áreas de risco, embora danos por incêndios,
vendavais e curtos-circuitos sejam mais amplamente disponíveis. No caso
de queimadas causadas por terceiros, os danos são indenizados pelo
seguro; no entanto, se o proprietário for responsável pelo incêndio para
obter vantagem, a cobertura será negada.
No caso das recentes inundações no Rio Grande do Sul, apenas um
terço dos prejuízos teve cobertura de seguro, enquanto dois terços
dependeram de recursos próprios. Esse cenário reflete a falta de
planejamento e a necessidade de conscientização sobre os riscos
climáticos, que têm se tornado cada vez mais imprevisíveis.
As seguradoras enfrentam desafios para precificar apólices devido
à crescente imprevisibilidade de desastres naturais. O modelo de
mutualismo, que distribui os custos entre os segurados, é impactado
negativamente por eventos de grandes proporções, exigindo adaptações e
ampliação das coberturas.
Tanto para pessoas físicas quanto para empresas, é essencial
avaliar os riscos de forma detalhada e contratar apólices que cubram
exposições específicas. Muitos empresários, confiantes na ausência de
eventos passados, optam por bancar o próprio risco, o que pode gerar
grandes prejuízos em situações inesperadas.
O seguro é um instrumento essencial para proteger vidas, bens e
negócios, mas é importante entender as condições da apólice para evitar
surpresas em momentos críticos. Contratar coberturas adequadas, como
seguro de vida, veículos e propriedades, ajuda a criar um colchão de
segurança para lidar com imprevistos e acelerar a recuperação após
desastres.
Esse panorama reforça a urgência de se preparar e proteger contra
os desafios impostos pelos eventos climáticos e a importância de
promover a conscientização sobre o papel dos seguros na gestão de
riscos.
Ana Beatriz Prudente Alckmin é Pedagoga pela USP, presidente da Zerah Platform, embaixadora climática do Brasil Me Too e educadora em ESG e Inteligência Artificial (IA)