Nara Couto_Diaspóricas_Crédito da foto: Juliana Cordeiro
Conexão Brasil-África: Nara Couto participa de série documental com cantoras de Cabo Verde
A
cantora e compositora baiana Nara Couto participou da 4ª temporada da
série documental “Diaspóricas”, que está em fase de pós-produção. As
gravações da série sobre musicistas negras da diáspora africana
aconteceram em Praia, capital de Cabo Verde, e nas cidades de Cidade
Velha e Tarrafal, além de uma breve passagem por Lisboa, em Portugal.
Nara Couto foi o elo musical brasileiro para conectar com o grupo de
batucadeiras Delta Ramatxada, representantes do ritmo tradicional
cabo-verdiano batuku. Além desse encontro, a série acompanha as cantoras
cabo-verdianas Zul Alves, Kady e Fattú Djakité. A iniciativa teve o
apoio do Centro Cultural Brasil Cabo Verde.
“Essa
é a segunda ou terceira vez que eu estive em Cabo Verde e para mim foi
muito incrível. Dessa vez, fui sozinha para ter encontros, fazer boas
trocas e poder entender um pouco mais quem eu sou. Mas acredito que com o
passar do tempo a gente foi colocando um conceito de África e desses
países PALOPS específicos, criando uma memória que talvez ela nunca
existisse. Então, foi muito bom estar lá de olhos, peito, com o meu
coração aberto, mente aberta. Estar em Cabo Verde foi o meu momento de
contemplação, de contemplação da vida, de contemplação desse povo, de
contemplação da minha própria vida, de resistência”, destaca Nara Couto.
Guiada
pela temática “Oralituras”, a temporada prioriza um olhar sobre as
tradições orais e a voz de mulheres de África inscrevendo memórias na
história de aproximação cultural entre Brasil e Cabo Verde. Uma das
artistas participantes da série, a cantora, compositora, artista
plástica e ativista social, Fattú Djakité, é nascida na Guiné-Bissau e
radicada em Cabo Verde desde a infância e teve sua carreira iniciada
ainda na adolescência. Com passagens marcantes por palcos de países
europeus e africanos, Fattú é fundadora da banda Azagua e reconhecida
por seu ativismo com músicas que falam de liberdade, ancestralidade e
empoderamento feminino.
Para
ela, a conexão com o Brasil já faz parte de sua vida e ela acredita que
a nova geração tem papel fundamental neste processo de manter a conexão
do continente africano ao nosso país. “Eu sempre estive conectada com o
Brasil, pelo seu tamanho, pela imensidão que é. Sinto que é uma ponte
muito importante, até porque muitos de nós, no tempo da escravatura,
tiraram-nos daqui de África e levaram para o Brasil. O meu sonho de
conhecer o Brasil era mesmo ir para a Bahia e consegui realizá-lo em
2017, quando vim ao país gravar meu disco no Rio de Janeiro. Então, vi
de perto a conexão que é. Eu senti a África dentro da Bahia, senti mesmo
aquela conexão, a busca, a preservação também, através da cultura, das
danças, da religião, do Candomblé. Então, eu sinto que é uma conexão
secular. E a gente agora, na geração que a gente está, é tentar criar
essa ponte o máximo possível. O sonho é ir para o Brasil, cantar, levar
minha história, levar minha cultura, aproximar mais as pessoas de lá com
a África e também ter mais brasileiros vindo para conhecer a África,
Cabo Verde, Guiné, Angola, todos os países que forem precisos para
vincular essa conexão”, comenta Fattú Djakité.
Internacionalização da Série ‘Diaspóricas’
Criado em 2022, o projeto Diaspóricas surgiu como série de curtas documentais, que narram histórias de mulheres negras e suas trajetórias na música brasileira a partir do Centro-Oeste do país. As duas primeiras temporadas, com cinco episódios cada, estão disponíveis gratuitamente no YouTube. Recém-lançada, a terceira temporada já está disponível no canal do YouTube, junto com as duas primeiras.
O projeto também deu origem a dois longas-metragens homônimos: Diaspóricas e Diaspóricas 2. O primeiro, premiado em festivais de cinema internacionais, e o segundo, em fase de distribuição. Em setembro, foi a vez de realizar o Festival Diaspóricas de Música e Cinema Negro, na cidade de Goiânia, capital de Goiás, com exibição de filmes, feira afroeempreendedora, oficinas e shows.
Nesta
4ª temporada, a série inicia seu processo de internacionalização,
atravessando o Atlântico. Para Ana Clara Gomes, idealizadora do projeto e
diretora da série, o retorno em África é uma necessidade que pessoas
negras da diáspora têm, para se assentarem e entenderem a si mesmas a
partir de memórias ancestrais do continente-mãe e o projeto cumpre seu
papel de fazer esta conexão. "A gente atravessa o Atlântico na
expectativa de encontros que são, na verdade, experiências de retorno. O
encontro com nós mesmas, o encontro com as memórias que nos foram
roubadas, o encontro com filosofias e formas de viver o mundo que fazem
parte da nossa história".
Mais
do que filmar, Diaspóricas também propõe encontros. As gravações, que
ocorreram entre 25 de junho a 11 de julho, foram realizadas por uma
equipe reduzida de integrantes do projeto, que embarcou do Brasil rumo a
Cabo Verde. Neste período em solo africano, o projeto contou com
exibições de episódios das duas primeiras temporadas da série, seguidas
de roda de conversa, além de exibição de filmes do coletivo Nhãnhas,
grupo de cineastas e pesquisadoras cabo-verdianas ligadas à
universidade, fortalecendo o intercâmbio entre realizadoras dos dois
países.
Por Cátia Milena Albuquerque
