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Foto: Divulgação
Cardiomiopatia hipertrófica: nova diretriz brasileira alerta para risco silencioso de morte súbita
Silenciosa, hereditária e potencialmente fatal, a cardiomiopatia hipertrófica (CH) provoca o espessamento anormal do músculo do coração, principalmente no ventrículo esquerdo, e está entre as principais causas de morte súbita em jovens atletas e adultos em plena atividade física. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a doença pode atingir até meio milhão de brasileiros, mas o diagnóstico precoce ainda é um desafio.
No ano passado, a SBC lançou a primeira diretriz brasileira específica sobre a doença, reunindo mais de 70 especialistas, com orientações atualizadas sobre diagnóstico, avaliação de risco, rastreamento familiar e tratamento. “O grande perigo é que, na maioria das vezes, a doença não dá sinais claros. Muitos só descobrem após um desmaio ou, infelizmente, depois de uma morte súbita durante exercícios”, alerta o cardiologista Sérgio Câmara, que atua nos hospitais da Rede D’Or, da Bahia e Português, em Salvador.
Sinais que passam despercebidos
A maioria dos casos evolui sem sintomas evidentes. Quando presentes,
incluem cansaço excessivo, palpitações, tonturas ou dor no peito, muitas
vezes atribuídos ao estresse ou ao sedentarismo. “É comum o paciente
relatar perda de fôlego ou uma palpitação diferente, sem imaginar que
pode ser algo mais grave”, comenta o especialista. A origem é genética e
cada filho de um portador tem 50% de chance de herdar a condição.
A diretriz brasileira recomenda o rastreamento ativo de familiares de primeiro grau, com exames clínicos, ecocardiograma e, em alguns casos, testes genéticos, mesmo na ausência de sintomas. “É uma medida simples que pode salvar vidas”, enfatiza Câmara.
O diagnóstico geralmente começa pelo ecocardiograma, capaz de identificar o espessamento do músculo cardíaco. Em alguns casos, a ressonância magnética oferece avaliação mais detalhada.
Tratamento
O tratamento varia conforme a presença ou não de obstrução e a
gravidade dos sintomas. Nos casos sem obstrução, o foco é o uso de
medicamentos para controle dos sintomas. Quando há obstrução
significativa e sintomas persistentes, podem ser indicadas cirurgias ou
procedimentos menos invasivos, como a ablação septal alcoólica.
Pacientes com risco elevado de morte súbita podem receber um desfibrilador cardíaco implantável (CDI). “A ablação é uma alternativa menos invasiva à cirurgia para pacientes bem selecionados. Já o CDI é um verdadeiro salva-vidas”, destaca o especialista.
Entre as novas terapias destaca-se o mavacamten (Camzyos), aprovado pela Anvisa em 2023. O medicamento melhora a função cardíaca e os sintomas, mas tem alto custo e acesso restrito. “Representa um avanço importante, especialmente para quem não responde bem aos tratamentos tradicionais ou quer evitar procedimentos invasivos, mas o preço e a disponibilidade ainda são barreiras”, explica Câmara.
Prevenção em atletas
A doença segue como uma das principais causas de morte súbita em
jovens atletas. O esforço físico intenso pode desencadear arritmias
fatais em quem desconhece o diagnóstico. Sintomas como desmaios, dores
no peito ou palpitações durante a prática esportiva devem ser
investigados, principalmente em pessoas com histórico familiar de
doenças cardíacas.
“Estamos falando de uma condição que pode ser identificada com um simples ecocardiograma. Quanto antes o diagnóstico, maior a chance de evitar uma tragédia”, conclui o cardiologista.
Por Cinthya Brandão