A nova temporada do espetáculo “Vovô”, após passar por Salvador, chega a Lauro de Freitas, no próximo domingo (17), às 18h, com apresentação no Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Afro-Brasileiro. A iniciativa integra o projeto “Raízes que Povoam”, que busca levar arte e ancestralidade para dentro de terreiros de candomblé em quatro cidades baianas, entre elas, Camaçari e Santo Amaro, que também recebem o espetáculo nas próximas semanas. Com entrada gratuita, a sessão convida o público para uma imersão afetiva na figura do avô negro, símbolo de memória, sabedoria e resistência nas famílias pretas brasileiras. O projeto é uma realização do Instituto de Arte e Cultura da Bahia (IAC-BA) / Teatroescola.

No mesmo dia, das 14h às 16h, antes da exibição teatral, será realizado um workshop de introdução à produção cultural exclusivo para membros do terreiro, conduzido por Nell Araújo, fundador e gestor do IAC-BA e do Teatroescola, a primeira escola artística inclusiva do Nordeste, e gestor do Teatro Jorge Amado. O objetivo é capacitar os participantes nas áreas de elaboração de projetos, comunicação, gestão financeira e estratégias para fortalecimento da cultura de terreiro. Tanto o espetáculo quanto o workshop vão contar com acessibilidade em Libras.

Para o líder espiritual do Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú, Babalorixá Igor de Odé (Igor Mascarenhas), a realização do espetáculo “Vovô” no terreiro representa mais do que uma apresentação artística, porque, ao reconhecer as histórias, saberes e tradições do candomblé, o projeto dá visibilidade às narrativas afro-brasileiras e fortalece o sentimento de pertencimento da comunidade. “A presença da arte nesse espaço reforça o papel fundamental dos terreiros na preservação da cultura negra e inspira novas formas de valorização e resistência”, declara.

“Ao trazer a memória desses espaços e das pessoas que os mantêm vivos, o espetáculo se transforma em um ato político e educativo. Ele contribui para romper estigmas, combater o racismo religioso e ampliar o entendimento da sociedade sobre a importância do candomblé como patrimônio imaterial da cultura brasileira. Além disso, promove o diálogo intergeracional, envolvendo jovens e anciãos na construção e na transmissão de suas histórias”, comenta Pai Igor de Odé.

Sobre o espetáculo - O co-criador do projeto e ator da peça, Rafa Martins, destaca a importância de levar o espetáculo “Vovô” para os terreiros, pois dialogam diretamente com os temas centrais do enredo, como amor, cuidado, respeito, mas também tristeza e rancor. “Já fizemos temporadas online, por Salvador, pelo Rio de Janeiro, mas acho que um dos espaços mais importantes e simbólicos é, de fato, o terreiro, porque está carregado de outras coisas”, avalia.

Criado em abril de 2021, durante a pandemia, “Vovô” nasceu como uma criação pensada para o formato virtual, gravada dentro de casa com celulares. Em 2023, ganhou adaptação para o formato presencial, sob direção de Leno Sacramento, artista do Bando de Teatro Olodum. Com dramaturgia sensível e poética, a montagem é interpretada pelos atores soteropolitanos Pedro Zaki e Rafa Martins e agora assume uma nova perspectiva, com diferentes movimentos, expressões e novas sensações.

Sobre o Terreiro - Fundado em 1984 pela Yalorixá Elza Neves - Oyá Sojú, o Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú carrega 41 anos de tradição e resistência da nação Ketu. Desde 2014 sob a liderança do Babalorixá Igor de Odé, o terreiro está localizado no bairro de Areia Branca, em Lauro de Freitas, onde foi reinaugurado em 2011. Em 2022, foi oficialmente tombado como Patrimônio Cultural Imaterial Afro-Brasileiro pelo município, destacando sua importância como espaço de preservação da cultura de matriz africana. Os principais orixás cultuados na casa são Oyá, orixá da fundadora, associada à força da natureza, e Oxóssi, orixá do Pai Igor, ligado à fartura, caça e sabedoria.

Além da sua relevância religiosa e cultural, o Ilê Asé Opô Oyá Sojú desempenha um papel ativo na promoção do bem-estar social da comunidade. A casa mantém uma cozinha solidária e uma associação comunitária que desenvolve projetos nas áreas de segurança alimentar, nutricional e cultural. Entre as ações beneficentes promovidas, está o projeto Prato Solidário, que atende aproximadamente 220 pessoas com almoços servidos três vezes por semana, em parceria com o programa Bahia Sem Fome e a organização Humana Brasil. 

“Os terreiros de candomblé são mais do que espaços religiosos, são guardiões de saberes ancestrais, línguas, cantos, mitos, danças e práticas que resistiram ao apagamento imposto pela colonização e pela marginalização histórica da população negra. São também lugares de acolhimento, resistência e reconstrução identitária para gerações de pessoas negras que buscam se reconectar com suas origens”, afirma Pai Igor de Odé.

SERVIÇO

Projeto Raízes que Povoam: Espetáculo Vovô + Workshop Produção Cultural 

LAURO DE FREITAS
Local: Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú
Endereço: Rua Capiarara, nº 1.850 – Areia Branca, Lauro de Freitas – BA, 42733-470
Data: 17 de agosto
Horário: Workshop: 14h às 16h | Espetáculo + Bate-papo: 18h às 19h10
Responsável:  Bàbálòrìsá Igor de Odé
Instagram: @igormascarenhas1 | @ileaseopooyasoju

*Atividades com acessibilidade em Libras

CAMAÇARI
Local: Terreiro Ilê Axé Raízes Obá Kossô Omi
Endereço: Rua São José, nº 13 – Distrito de Parafuso, Camaçari – BA, 42811-292
Data: 23 de agosto
Horário: Workshop: 14h às 16h | Espetáculo + Bate-papo: 18h às 19h10
Responsável: Bàbálòrìsá Jorge D'Olwaiyè
Instagram: @ileaxeraizesobakossoomi

SANTO AMARO
Local:  Terreiro Ilê Yá Oman
Endereço: Av. Rui Barbosa, n 577-  Bonfim, Santo Amaro - BA
Data: 29 de agosto
Horário: Workshop: 09h às 12h | Espetáculo + Bate-papo: 14h às 15h10
*Workshop exclusivo para membros do terreiro e estudantes da UFRB
Responsável:  Bàbálòrìsá Sérgio de Ayrá
Instagram: @babasergioayra

FICHA TÉCNICA 

O espetáculo “Vovô” conta com atuação de Pedro Zaki e Rafa Martins, sob direção de cena de Leno Sacramento e direção de movimentos de Dudé Conceição. A direção de produção é assinada por Juliana Sousa, com produção executiva de Rafa Martins e assistência de produção de Joice Salles. A gestão administrativa da instituição e a facilitação do workshop ficam a cargo de Nell Araújo.

Na equipe técnica, Robson Poeta atua como técnico de luz e Fernanda Maia na fotografia. A mobilização de plateia voltada ao público surdo é realizada por Elinilson Soares (pessoa surda), com interpretação em Libras de Vinicius Haastari e Uiara Vieira. A assessoria de imprensa é feita pela Viva Comunicação Interativa, a gestão de mídias sociais por Gabriela Andrade e o design gráfico é assinado por Larissa Boaventura.

Por Tatiane Freitas