Foto: Divulgação/Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - Retrospectiva 2025: as tensões no xadrez da política nacional = Por Wilson Pedroso
O ano de 2025 foi marcado por eventos políticos de impacto no Brasil e no mundo. No contexto nacional, o principal deles é, sem dúvida, a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Embora o julgamento tenha sido realizado apenas no fim do ano, a acusação formal ocorreu em fevereiro e os diversos desdobramentos do processo provocaram uma enorme tensão política no país ao longo de todo o ano, com acirramento do clima da polarização, reflexos na crise institucional interna, além de impactos econômicos e diplomáticos.
A análise retrospectiva do ano nos mostra que, já no mês de março, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República contra Bolsonaro. O ex-presidente se tornou réu no processo, fato que acirrou os ânimos da direita, culminando em uma série de protestos em todo país nos meses que antecederam o julgamento. Na busca por apoio externo, Bolsonaro abriu diálogo com os EUA e, na sequência, o governo americano anunciou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, que reagiu com abertura do inquérito contra Flávio Bolsonaro por suposta atuação contra o judiciário.
Em junho, o depoimento de Bolsonaro no STF foi mais um momento de tensão, que levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a se posicionar em favor do ex-presidente em suas redes e, logo em seguida, anunciar o tarifaço de 40% sobre produtos brasileiros, que chegou a 50% somado aos 10% que já haviam sido impostos anteriormente. Dias depois, a Polícia Federal apontou risco de fuga e Bolsonaro passo a usar tornozeleira eletrônica, que mais tarde seria avariada, fato que o levou à prisão do ex-presidente na sede da PF em Brasília.
Em agosto, já havia sido determinada a prisão domiciliar de Bolsonaro e em setembro veio a condenação por golpe. Agora, a defesa pede que lhe seja concedida prisão domiciliar humanitária, em razão de problemas de saúde. Em paralelo, a direita se mostra desnorteada sem a definição rápida de um nome capaz de liderar o movimento conservador no país e, especialmente, de ir às urnas em 2026.
Em meio a todo esse cenário, Lula viu sua imagem se fortalecer junto à opinião pública, especialmente após os ataques do governo americano contra o Brasil. Embora inicialmente tenha sido criticado pela falta de habilidade diplomática, mais tarde o presidente ainda acabou conseguindo abrir diálogo com Trump que, no fim do ano, se posicionou pela remoção das tarifas impostas aos produtos agrícolas brasileiros. As conversas entre ambos ainda incluem debates sobre ampliação das ações de cooperação das duas nações no combate ao crime organizado internacional, evidenciando que o Governo Federal compreendeu que a segurança pública precisa estar no centro da pauta.
O novo posicionamento veio especialmente em razão dos estragos políticos causados pela Operação Contenção, deflagrada pelo Governo do Rio de Janeiro contra a facção criminosa Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha. A ação chamou a atenção de todo país ao deixar 122 pessoas mortas, número que ultrapassa o massacre do Carandiru, sendo considerada o mais letal do país. O episódio acabou ocupando grande espaço na narrativa ideológica nacional, com embates intensos entre direita e esquerda, e ainda evidenciou um racha importante entre lideranças do PT.
Além da crise interna partidária, o governo Lula ainda enfrentou momentos de desgaste com a Câmara dos Deputados, que giraram em torno de pautas como a PEC da Blindagem, o chamado PL da Devastação, a MP da Taxação BBB (bilionários, bets e bancos) e o PL da Anistia. A realização da COP-30 no Brasil, inicialmente considerada uma vitória e oportunidade de prestígio internacional para Lula, também acabou se tornando momento conturbado, com as imagens da invasão e do incêndio nos pavilhões repercutindo de forma negativa em todo o mundo.
Fora da esfera política, o ano foi marcado por episódios como os casos de intoxicações e mortes por metanol; o tornado que atingiu o Paraná deixando o município de Rio Bonito do Iguaçu completamente destruído; e a morte comovente da brasileira Juliana Marins no Monte Rinjani, na Indonésia. Os debates sobre a proteção de menores da Internet também tiveram dois momentos importantes no decorrer do ano, sendo o primeiro motivado pelo lançamento da série Adolescência, na Netflix, e o segundo pelas denúncias do influencer digital Felca, que detalhou ações de pedófilos no ambiente virtual.
Para 2026, quando se realizam novas eleições presidenciais, a tendência é que sejam ampliadas ainda mais as tensões já instaladas no xadrez da política nacional. O que podemos esperar é que, apesar da radicalização, os debates sobre as disputas ideológicas ocorram de forma respeitosa, com a construção de um processo eleitoral íntegro e democrático.
Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing, além de sócio estrategista do Instituto de Pesquisa Real Time Big Data
