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ARTIGO - O Natal moderno evolui e se reinventa com a ascensão das redes sociais = Por Vivian Bianchi
Nos últimos anos, o Natal deixou de ser apenas um período de
celebrações familiares para se transformar também em um grande palco
digital. As redes sociais, especialmente Instagram, TikTok e Pinterest,
redefiniram o que significa “glamour natalino”, moldando desejos,
estéticas e expectativas. O resultado desse movimento é um “novo
glamour”, mais visual e frequentemente distante da simplicidade afetiva
que tradicionalmente marcava essa época do ano.
Antes da influência massiva do universo digital, a decoração de
Natal era um ritual íntimo, pensado para dentro de casa e para quem
vivia aquele ambiente. Hoje, ela se tornou também uma vitrine. Árvores
impecáveis, mesas coordenadas com precisão, lares convertidos em
cenários cinematográficos e composições planejadas para gerar impacto
compõem um imaginário que se dissemina em alta velocidade. Nasce, assim,
uma estética que não busca apenas decorar, mas inspirar, e que dialoga
diretamente com tendências globais e padrões visuais altamente
refinados.
Esse fenômeno impulsionou a profissionalização da decoração
natalina. Decoradores, designers, artistas e empresas especializadas
passaram a ocupar um espaço crescente, atendendo desde famílias que
desejam reproduzir um ambiente sofisticado até marcas que enxergam no
Natal uma oportunidade de reforçar posicionamento e branding. A busca
por ambientes esteticamente pensados não se explicaria apenas por
vaidade, pois trata-se de uma demanda que combina conforto, identidade e
impacto visual em um contexto em que tudo pode se tornar conteúdo.
Com isso, o glamour também se reinventa. Ele deixa de representar
ostentação e passa a refletir curadoria: escolhas de materiais,
combinações de cores, composição de luz, equilíbrio entre tradição e
modernidade. O que antes era uma decoração de ocasião se torna uma
narrativa visual capaz de expressar estilo de vida, emoções e
referências culturais. Esse deslocamento transforma o Natal em uma
experiência planejada, fotografável e replicável.
A mudança, porém, reacende um debate central, já que o Natal,
sempre foi marcado pela memória, pelo afeto e pela presença, e não pela
performance. Quando a estética se sobrepõe completamente ao significado,
corre-se o risco de esvaziar o sentido da data, substituindo emoção por
espetáculo. Por outro lado, quando o visual se conecta a propósito,
identidade e história familiar, ele não perde sua essência; apenas ganha
novas formas de expressão, inclusive no ambiente digital.
Do ponto de vista econômico, a Confederação Nacional do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta que o varejo deve movimentar
R$ 72,71 bilhões no Natal de 2025, crescimento de 2,1% em relação ao ano
anterior. Caso o número se confirme, será o melhor desempenho desde
2014. O “novo glamour”, portanto, não apenas influencia comportamentos e
desejos, mas impulsiona setores inteiros, da decoração ao consumo.
Ainda assim, apesar da força das redes, o significado do Natal continua
sendo construído individualmente, dentro de cada casa.
No fim, talvez o equilíbrio esteja em aproveitar a inspiração
oferecida pelas redes sem perder de vista que o Natal é, essencialmente,
humano. Não é sobre likes, mas sobre pertencimento; não é sobre
comparação, mas sobre criar memórias que permanecem quando a árvore é
desmontada e o feed volta ao normal. O “novo glamour”, quando
compreendido dessa forma, não é um desvio, mas apenas uma camada
contemporânea em uma celebração que continua sendo, em sua essência,
afetiva.
Vivian Bianchi é diretora criativa e fundadora da
Tree Story, empresa especializada em projetos personalizados de
decoração natalina, com foco em ambientações exclusivas para
residências, marcas e ambientes corporativos. É formada em Design de
Interiores pela EBAC, com especializações em produção e cenografia pelo
IED São Paulo e IED Barcelona
