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ARTIGO - Incluir é mais do que aceitar: é transformar o mundo para todas as estaturas = Por Rebeca Costa
Falar sobre inclusão parece, atualmente, quase um lugar comum. Estamos cercados de discursos sobre diversidade, campanhas com pessoas de corpos diferentes e promessas de acessibilidade. No entanto, quando o tema é o nanismo, a realidade ainda está distante dessa promessa. O que predomina é a invisibilidade, a exclusão e a constante necessidade de provar que pertencemos.
Pessoas com nanismo, como eu, crescem em um mundo que não foi
feito para os nossos corpos, e não falo só de arquitetura ou transporte
público. A exclusão é estrutural, emocional e simbólica. Começa na
infância, quando somos alvos fáceis do bullying, e se arrasta pela vida
adulta, nos olhares de estranhamento, na infantilização a que somos
sujeitos e na ausência de representações autênticas na mídia. É difícil
falar de inclusão quando sequer somos lembrados nas conversas sobre
pessoas com deficiência. É mais difícil ainda quando a nossa condição é
reduzida a uma limitação física, sem considerar os impactos sociais e
psicológicos que o preconceito provoca. Inclusão, para pessoas com
nanismo, não pode ser limitada à acessibilidade mínima. Precisa ser um
compromisso coletivo com a mudança de mentalidade.
Ser incluído não é apenas estar presente, é ser considerado,
respeitado e compreendido. É ter acesso à educação sem ser alvo de
piadas. É ocupar o mercado de trabalho sem ter que se adaptar sozinha ao
ambiente. É ser vista como adulta, uma pessoa capaz, e não como alguém
frágil ou caricatural.
O mundo ainda espera que a pessoa com nanismo se adapte a ele.
Mas a verdadeira inclusão é o oposto disso: é o mundo que deve
reorganizar-se para acolher todos os corpos e subjetividades. Isso
implica rever políticas públicas, repensar o design urbano e
arquitetônico e, acima de tudo, investir em educação — para o respeito,
para a empatia e para a escuta. Estamos falando de vidas. De crianças
que, ainda muito pequenas, aprendem que são tratadas como “diferentes
demais” para brincar. De jovens que evitam sair de casa por medo do
julgamento. De adultos que enfrentam diariamente o desafio de afirmar
seu lugar no mundo.
O que chamamos de inclusão não pode ser estético ou superficial.
Precisa ser profundo, real e cotidiano. Precisamos parar de tratar o
diferente como exceção. Porque, afinal, somos muitos e queremos o mesmo
que todo mundo: viver com dignidade.
Rebeca Costa
Advogada, influenciadora, palestrante e mulher que vive com a acondroplasia, a forma mais comum de nanismo.
