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FLIP 2025 recebe o primeiro painel formado exclusivamente por escritoras amarelas
(Paraty, 30 se julho de 2025) No dia 2 de agosto de 2025, a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) recebe, pela primeira vez, um painel com exclusivamente escritoras mulheres nipo-brasileiras. O evento independente intitulado “O caminho da arte na retomada da identidade nipo-brasileira” reunirá artistas que, por meio da literatura e da arte, têm revisitado suas trajetórias pessoais em busca de pertencimento e representatividade.
Com mediação da artista e escritora Tati Takiyama, criadora do perfil “Notícias Amarelas”, o painel propõe um mergulho sensível na relação entre memória, ancestralidade e expressão artística. A mesa será realizada no sábado, 2 de agosto às 15h30, na Casa Ofício das Palavras (Rua Gravatá, 65). A entrada é gratuita.
O painel nasceu de conversas entre autoras do Coletivo das Escritoras Asiáticas & Brasileiras, que perceberam a ausência histórica de representações asiático-brasileiras na literatura e em eventos literários como a FLIP. Compartilhando experiências de apagamento, estereótipos e silêncios transgeracionais, elas se uniram para construir um espaço de escuta e cura. O painel não é apenas uma roda de conversa, mas uma acolhimento afetivo para aqueles que usam a arte como um caminho de retomada da identidade.
“Cada documento que encontrei, cada segredo de família que desenterrei, era também um capítulo que eu precisava escrever para me lembrar de quem sou. Escrever é fazer o caminho de volta e levá-lo adiante”, afirma a escritora e cineasta parda-nipo-brasileira Juliana Sakae, autora do livro “Eu, Brasil” (Editora Ofício das Palavras, 2025).
As autoras se conheceram quando já estavam prestes a publicar seus livros, mas encontraram similaridades importantes em suas obras. “Quando meu pai morreu, encontrei a autobiografia que ele nunca mostrou a ninguém. “Percebi a importância de passar adiante as nossas histórias, pois nos coloca em outra perspectiva, mas exige coragem para tocar nas nossas feridas e reconstruir o que o tempo tentou apagar”, diz Tieko Irii, autora do livro “As Ruas Sem Nome” (Editora Patuá, 2025).
A escritora Ana Shitara, mestre pela USP, é referência na literatura asiática-brasileira. Ana publicou uma coletânea de histórias de mulheres intitulada “Sob o sol a pino” (Editora Patuá, 202_) e chega à FLIP com o livro “Hoje” (Editora Patuá, 2025): “Escrevo para dar corpo às vozes de tantas mulheres amarelas que vieram antes de mim. A literatura é meu jeito de lembrar que existimos e deixamos marcas.”
O painel traz mulheres de diferentes gerações em diferentes momentos de suas jornadas de retorno a raízes. A mais nova do grupo, Beatriz Misaki, é conhecida por seu livro “Buruna: por um canto amarelo”(Publicação Independente, 2024), e traz à FLIP seu novo livro “E otaku ama?” (Publicação Independente, 2025) que revela um olhar ora exotizado às mulheres de ascendência asiática: “Sempre quis ler histórias ficcionais sobre a juventudade com personagens como eu. Como não encontrei, decidi criá-las”
A ilustradora Flavia Yumi Sakai vem à FLIP lançar O Tempo em uma Chawan (Editora Nascente, 2025), seu primeiro livro ilustrado de haicais, criado em coautoria com Juliana Negrão, que conecta gerações, ancestralidade e silêncio por meio da simbólica tigela de chá japonesa. “A chawan e todos os valores estéticos, filosóficos e culturais que ela carrega representa, para mim, um portal de acesso à minha ancestralidade e à minha identidade nipo-brasileira.”
Autoras participantes:
Ana Shitara: Professora e escritora, é mestre em Educação pela USP e autora de romances como “Sob o sol a pino” e “Hoje”, ambos publicados pela Editora Patuá. Em suas obras, traça narrativas intergeracionais que acompanham mulheres da família Edo, da imigração japonesa à construção da identidade brasileira, abordando pertencimento, amor e reconstrução de identidade.
Beatriz Misaki: Escritora e criadora de conteúdo, é autora do romance “Buruna: por um canto amarelo” e do novo livro “E otaku ama?”, que questiona o racismo internalizado e estereótipos sobre mulheres asiáticas. Sua escrita aborda a experiência nipo-brasileira com linguagem destinada ao público jovem-adulto.
Flavia Yumi Sakai: Em sua obra, Flavia explora o espaço vazio entre Brasil e Japão como território de leveza, pertencimento e expressão. Coautora do livro O Tempo em uma Chawan, criado com a autora Juliana Negrão, constrói uma narrativa que entrelaça valores estéticos e filosóficos japoneses — o silêncio da cerâmica e os versos mínimos do haicai — como portal para a ancestralidade e a identidade nipo-brasileira.
Juliana Sakae: Jornalista e documentarista com foco em direitos humanos, Juliana é autora de “Eu, Brasil”, livro híbrido entre romance e investigação pessoal. A obra reconstrói a história de seus ancestrais por meio de testes de DNA, entrevistas e documentos espalhados por dez cidades, revelando segredos de família que ecoam até hoje.
Tieko Irii: Escritora, ilustradora e artista visual, Tieko é autora do livro “As Ruas Sem Nome” (Patuá, 2025), obra que nasceu da descoberta da autobiografia de seu pai, um imigrante japonês. O livro é uma conversa intergeracional entre ele e a autora. Histórias vividas em mundos paralelos, o Brasil e o Japão, pela busca de um lugar ao sol, atravessadas pelas questões de identidade, pertencimento, racismo, preconceito, estereótipo, raça e gênero.
Tati Takiyama (moderadora) tem uma das trajetórias mais consistentes e inspiradoras do teatro brasileiro. Atriz de presença rara, comprometida com a arte e com o coletivo, além de ser a criadora e administradora do perfil @noticias.amarelas
Lançamentos das autoras na FLIP 2025
Sexta-feira, 01/08/2025
– Praça Aberta, mesa do Coletivo das Escritoras Asiáticas e Brasileiras:
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14h – Tempos Amarelos, de Veronica Yamada
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15h30 – O Tempo em uma Chawan, de Flavia Yumi Sakai
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18h – Abutre, de Marina Yukawa
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17h – Eu, Brasil, de Juliana Sakae – Casa Ofício das Palavras (Rua Gravatá, 65)
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19:00 – As Ruas sem Nome, de Tieko Irii – Casa Gueto (Rua Benedito Telmo Coupê, 277)
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21h – E Otaku Ama?, de Beatriz Misaki – Praça Aberta, mesa 2
Por Amanda da Com Tato