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ARTIGO - Reajuste do aluguel não precisa ser sentença: é hora de abrir espaço para a negociação = Por Julio Viana
Com o IGPM acumulando alta de 8,58% nos últimos 12 meses, é natural que muitos inquilinos fiquem preocupados com o impacto desse número no bolso. Afinal, em boa parte dos contratos de aluguel, esse índice é o gatilho para um reajuste automático que nem sempre acompanha a realidade financeira de quem paga. Mas é justamente nesse ponto que precisamos refletir: reajuste não é sentença. É possível — e, muitas vezes, necessário — negociar.
O Brasil tem um histórico conhecido de volatilidade econômica. Câmbio, inflação, taxa Selic: tudo muda com frequência e intensidade. Nesse cenário, o IGPM costuma ser especialmente instável, porque incorpora preços de commodities, produtos de construção e itens agrícolas. Já o IPCA, índice oficial da inflação, é mais previsível, refletindo o custo de vida de fato. Se quisermos relações de aluguel mais equilibradas, vale a pena considerar essa troca de índice.
Mais do que um debate técnico sobre índices, o ponto central é entender que nenhum contrato é imutável. A Lei do Inquilinato prevê alternativas: ações revisionais, mudanças de índice e até acordos que reduzam o valor do aluguel. Se ambas as partes estiverem dispostas, tudo pode ser renegociado. E, honestamente, é melhor renegociar do que ver a relação se deteriorar por causa de um reajuste mal conduzido.
É compreensível que o proprietário queira manter a rentabilidade do imóvel — e é legítimo. Mas também é razoável que o inquilino busque um valor que caiba no seu orçamento. Quando o aumento compromete o equilíbrio financeiro da família, o diálogo é o caminho mais responsável. Vale comparar com imóveis semelhantes, avaliar o índice mais coerente com o momento e apresentar argumentos claros, com empatia e respeito.
Nessas horas, ter um bom intermediário pode fazer toda a diferença. Uma imobiliária ou uma plataforma digital confiável ajuda a evitar conflitos e cria um ambiente mais neutro para que ambas as partes se escutem. Em tempos de alta nos preços e tensão econômica, construir pontes é mais produtivo do que endurecer posições.
O reajuste de aluguel não precisa ser motivo de crise. Ele pode, sim, ser o ponto de partida para uma conversa madura, em que inquilino e proprietário encontrem juntos o melhor caminho para manter a relação — e o contrato — sustentável para ambos os lados.
Julio Viana é cofundador e CEO da Plaza, uma proptech focada em inteligência artificial para o mercado imobiliário. Formado em Economia pela UFPE e com mestrado na London School of Economics (LSE), tem mais de nove anos de experiência no setor. Fundou a InfoProp, vendida ao Grupo Zap VivaReal, e em 2022 criou a Plaza, uma plataforma de funcionários virtuais com inteligência artificial que estão inaugurando uma nova era no atendimento imobiliário.