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Cerca de 1,4 milhões de CNPJ’s são abertos em 2025, com sobrecarga de atividades para mulheres negras
Em 2025, a corrida pela abertura de pequenos negócios em 2025 está à cargo dos estados de São Paulo (28,6%), Minas Gerais (10,9%) e Rio de Janeiro (7,8%) – com mais de 93 milhões de habitantes enfrentando os desafios do empreendedorismo. Segundo o último relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), pelo menos 34% desses empreendimentos já são liderados por mulheres, no entanto, os desafios são crescentes para este público – especialmente para os negócios comandados por mulheres negras.
Apesar da alta de 1,4 milhões de CNPJ’s abertos no primeiro trimestre de 2025 na liderança da região Sudeste, segundo o Sebrae, o afroempreendedorismo feminino luta para se manter em meio à desigualdade de gênero, acesso limitado a crédito e conciliação com a dupla jornada de trabalho. Para se ter uma noção, o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME) revelou que as mulheres negras empreendedoras (5,8 pts) se sentem mais sobrecarregadas com as funções cotidianas do que as mulheres brancas – 5,3 pts.
Além de suportar a sobrecarga de função, as mulheres negras possuem uma renda individual e familiar abaixo das mulheres brancas – ainda que 62% das afroempreendedoras sejam as chefes da família. Os dados levantados pela Sumup mostram ainda que 50% do público feminino empreende por ‘necessidade’ – e não por ‘oportunidade’.
Com mais de 80,8% da população autodeclarada negra, a Bahia – especialmente a capital Salvador – vem se tornado palco do afroempreendedorismo feminino nacional. À frente do impulsionamento de marcas lideradas por mulheres negras, a curadora e fundadora da Afrocentrados Conceito, Cynthia Paixão, é responsável por reunir, criar conexões e fortalecer a rede nacional de mulheres negras empreendedoras da cidade.
“Entre os 1,4 milhões de CNPJ’s abertos, os negócios de mulheres negras são os mais afetados no quesito abertura, manutenção, mão de obra, acesso ao crédito e outras questões socioeconômicas. A maioria dessas mulheres empreende sem nem conseguir ajuda dos que estão dentro de casa. É nesse sentido que a Afrocentrados Conceito surge como propulsora dos mais de 100 afroempreendimentos que temos aqui na loja e que passam pela minha curadoria. Enquanto capital mais negra fora da África, Salvador – junto a Afrocentrados – destaca o patrimônio histórico que é carregar essas marcas com tanta riqueza afrodescente”, explica.
Com foco na cultura afro-brasileira, Cynthia destaca 4 marcas que “todo brasileiro deveria conhecer”: Atelier Camila Loren, Lumimosa, Mais Linda Afro e Helô Nazaré Acessórios. A curadora destaca que, entre os 34% dos negócios liderados por mulheres, as marcas selecionadas são voltadas ao vestuário, economia criativa e artesanato. O processo de escolha reflete o panorama “Empreendedoras e seus negócios 2024”, no qual as categorias “vestuário e acessórios” (15,6%) e economia criativa/artesanato (11,3%) ocupam o top 4 negócios liderados por mulheres.
Conheça abaixo quatro empreendedoras negras que impulsionam a economia local, mesmo em meio às barreiras sociais:
Atelier Camila Loren
À frente do Atelier que carrega sua identidade, a designer de moda Camila Loren costura memória, afeto e pertencimento em cada peça que produz. A marca, nascida em Salvador, carrega o conceito do slow fashion com um DNA afro-brasileiro evidente. Suas criações são autorais, feitas à mão e convidam à reconexão com a ancestralidade e à valorização dos corpos reais.
Entre os destaques estão a chemise Avuá com bolsos em crochê, a calça Avuá alfaiataria e o cropped de crochê da mesma coleção — peças que revelam sofisticação, originalidade e identidade. “Camila é uma das artistas que mais representa o vestir ancestral com contemporaneidade. A roupa dela fala com o corpo da mulher preta de um jeito único”, comenta Cynthia.
Lumimosa
Com raízes no artesanato e no afeto, a ‘Lumimosa’ nasceu em 2018 pelas mãos da artesã Luciana Batalha. Mais tarde, em parceria com Ana Áurea, a marca expandiu suas possibilidades criativas e comerciais, chegando com uma proposta inovadora no segmento de presentes personalizados.
As nécessaires – carro-chefe da marca – são feitas com técnicas de sublimação e couro sintético, voltadas para diferentes públicos e ocasiões. São peças práticas e cheias de estilo, pensadas com cuidado e criatividade. “A Lumimosa tem um trabalho encantador. Elas entendem bem o que o cliente procura e entregam produtos que combinam utilidade e beleza de um jeito único”, destaca a curadora.
Mais Linda Afro
Da paixão pela história afro-brasileira à fundação da própria marca, ‘Mais Linda Afro’ nasce do desejo de Gisele Alves em enriquecer a experiência pedagógica de seus alunos por meio da cultura material negra. Hoje, a marca é referência em acessórios, vestimentas e itens que promovem identidade e empoderamento. Os brincos com símbolos Adinkra, os turbantes com técnicas de amarração e as roupas com forte inspiração africana são mais que produtos — são ferramentas de valorização afro-brasileira.
“Gisele traduz com muita verdade a beleza da nossa ancestralidade. A marca dela tem alma, tem propósito, e isso é o que conecta as pessoas ao trabalho dela”, afirma Cynthia.
Helô Nazaré Acessórios
Com mais de 20 anos de experiência na criação artesanal, ‘Helô Nazaré Acessórios’ é uma marca que traduz delicadeza, força e ancestralidade em peças autorais feitas à mão. Inspirada pelo mar e por elementos naturais, Heloina Nazaré cria joias afetivas que fogem da produção em série para se tornarem peças únicas e cheias de significado. Seus acessórios, concebidos para mulheres que buscam conexão com o que usam, evocam proteção, beleza e autenticidade.
“Helô tem uma sensibilidade única com os materiais e com a história que deseja contar. Cada peça dela parece uma extensão da natureza. Todas essas marcas têm em comum mais do que a excelência estética. Elas representam um movimento que resgata histórias, rompe barreiras e fortalece o empreendedorismo negro, especialmente feminino. Ver essas mulheres ocupando espaços com suas criações é o que me move. Estamos acreditando, construindo e transformando o presente das nossas filhas e descendentes. Essas mulheres, sim, são potências em movimento”, conclui.
Por Glaucia Pinheiro