Foto: Raphaela Valéria
Entre a fé e o poder, um duelo de almas
No século XVIII, quando o paganismo se espalhava pela França como uma nova forma de crença e influência, a alquimia deixava de ser tabu para se tornar ciência. É nesse contexto histórico que o médico e escritor Gabriel Ract situa O alquimista de bastos, um romance denso e imaginativo em que o esotérico se confunde com o humano. Entre laboratórios e segredos, ele conduz o leitor por um universo em que a transmutação do ouro é apenas o começo de uma jornada mais profunda: a tentativa de transformar a própria alma.
A narrativa acompanha Damian Willard, um jornalista britânico infiltrado como estudante em uma prestigiada universidade parisiense. Sua missão é investigar o desaparecimento de alunos do curso de esoterismo ministrado pelo misterioso Simon Durant, alquimista que carrega o fardo da imortalidade e o poder da pedra filosofal. O que começa como uma investigação racional logo se transforma em uma experiência de fé, desejo e destruição — um jogo de forças entre o cético e o místico, o humano e o divino.
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Como dito anteriormente, os alquimistas franceses acreditavam em uma
origem cristã para a pedra filosofal, considerando, portanto, que o
objeto tivesse poder não apenas sobre a carne, mas também sobre o
espírito daquele que a possuísse. Por conta disso, desenvolveram métodos
de alquimia inspirados por civilizações além dos limites da Europa, com
o intuito de propositalmente distorcer a alma por intermédio de objetos
inanimados. Sim, estou falando sobre uma técnica de alquimia etérea,
tão audaciosa e tão perigosa que consta em pouquíssimos atos oficiais.
(O alquimista de bastos, p. 58)
Ao longo da história, Damian se vê dividido entre Marie, a artífice que o convida à lucidez, e Simon, cuja presença enigmática o conduz a um labirinto de manipulação e fascínio. Em meio a rituais, conjurações e duelos que mesclam tarot e alquimia, o protagonista descobre que o maior experimento de transmutação talvez seja o próprio coração humano.
À medida que os segredos se revelam, o leitor é levado a refletir sobre a fragilidade da moral e o preço das escolhas. O alquimista de bastos não aborda penas magia, mas poder, culpa e redenção, além da necessidade humana de dominar o que não compreende. Cada página revela o quanto a alma, assim como o metal, precisa atravessar o fogo para alcançar sua forma mais pura.
Autor de outras fantasias como “TIAC: A Torre de Babel” e “David Goffman e a Travessia Infernal”, Gabriel Ract reafirma sua maturidade literária ao transformar símbolos ancestrais em dilemas contemporâneo, com um enredo complexo, personagens ambíguos e uma linguagem refinada.
FICHA TÉCNICA
Título: O alquimista de bastos
Autor: Gabriel Ract
Editora: Letramento
ISBN: ?978-65-5932-686-0
Páginas: 196
Preço: R$76,90
Onde comprar: Editora Letramento
Sobre o autor: Gabriel Vieira Ract Ramos é médico reumatologista formado pela Universidade Cidade de São Paulo, com residência em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina e especialização em Reumatologia pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Iniciou sua trajetória literária aos 15 anos e, desde então, vem explorando o universo da fantasia sob uma perspectiva filosófica e simbólica. Também é autor de “TIAC: A Torre de Babel” e “David Goffman e a Travessia Infernal”.
Por Victória Gearini
