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AVC cresce entre jovens e continua líder em mortes no Brasil
O
Acidente Vascular Cerebral (AVC) permanece como uma das principais
causas de morte e incapacidade no país e o alerta agora se estende
também aos mais jovens. No Dia Mundial do AVC, celebrado em 29 de
outubro, especialistas chamam a atenção para a importância da prevenção e
do reconhecimento precoce dos sintomas. De acordo com dados recentes do
Ministério da Saúde, o Brasil registra, em média, um novo caso de AVC a
cada dois minutos e seis mortes por hora. No mundo, são mais de 12
milhões de casos anuais, com quase sete milhões de óbitos. Na
Bahia, hospitais de referência reforçam a necessidade de reconhecer os
sinais precoces e agir com rapidez. “O tempo é um fator determinante no
prognóstico. Cada minuto perdido pode significar milhões de neurônios
comprometidos. Quanto mais rápido o diagnóstico e o início do
tratamento, maiores as chances de recuperação funcional”, afirma o
neurologista Jamary Oliveira, coordenador da UTI Neurológica e do Centro
de Pesquisa Clínica do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS). Números em alta
- Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o AVC é a segunda
principal causa de morte e a terceira de incapacidade no mundo. O
relatório Global Burden of Diseases mostra que, entre 1990 e 2021, o
número de casos aumentou 70%. No Brasil, o cenário é igualmente
preocupante. Dados do portal avc.org.br
indicam 84.878 mortes por AVC em 2024, número superior ao de óbitos por
infarto no mesmo período. A incidência anual varia entre 232 mil e 344
mil novos casos, com destaque para o avanço entre pessoas com menos de
50 anos. Ainda
que faltem dados regionais atualizados, estimativas de entidades
médicas apontam que a Bahia acompanha a tendência nacional. “O Hospital
Mater Dei Salvador vêm estruturando fluxos de emergência neurológica
para reduzir o tempo entre a chegada do paciente e a realização da
tomografia ou da trombólise. O tratamento é dependente do tempo: nas
primeiras quatro horas e meia é possível realizar a trombólise
intravenosa, que dissolve o coágulo e, em casos selecionados, a
trombectomia mecânica pode ser feita até 24 horas após o início dos
sintomas”, explica Jamary Oliveira. O
neurologista afirma também que o AVC ocorre quando há interrupção ou
ruptura do fluxo sanguíneo cerebral, provocando morte de células
nervosas. Os sintomas surgem de forma súbita e devem ser reconhecidos
rapidamente. Fraqueza ou dormência em um dos lados do corpo, dificuldade
para falar ou compreender, perda de visão súbita, tontura,
desequilíbrio ou dor de cabeça intensa sem causa aparente são sinais de
alerta. “Nesses casos, a orientação é acionar imediatamente o SAMU (192)
ou serviço privado de ambulância e informar o horário exato em que os
sintomas começaram”, pontua. Prevenção, diagnóstico e reabilitação
- Estima-se que nove em cada dez AVCs poderiam ser prevenidos com o
controle de fatores de risco. A hipertensão arterial é o principal
deles, seguida de diabetes, colesterol elevado, tabagismo, obesidade e
sedentarismo. Para o Dr. Jamary Oliveira, a abordagem preventiva deve
começar cedo. “O AVC não é mais uma doença exclusiva dos idosos. Há um
aumento expressivo entre adultos jovens, muitas vezes por hábitos de
vida inadequados e falta de acompanhamento médico”, alerta. Após
o diagnóstico por tomografia ou ressonância magnética, o tratamento
pode envolver uso de medicamentos anticoagulantes, controle da pressão
arterial e, em alguns casos, intervenção neurocirúrgica. A reabilitação
multidisciplinar — com fisioterapia, fonoaudiologia e terapia
ocupacional — deve começar o quanto antes para minimizar sequelas
motoras e cognitivas. No
HMDS, o serviço de neurointensivismo mantém protocolos que priorizam a
rapidez no atendimento e a integração entre a equipe médica e o serviço
de emergência. “Buscamos reduzir o tempo porta-agulha, ou seja, o
intervalo entre a chegada do paciente e o início da trombólise. Essa
agilidade faz diferença real na sobrevida e na autonomia futura do
paciente”, destaca o Dr. Jamary. Apesar
dos avanços tecnológicos e da existência de centros especializados, a
realidade brasileira ainda é marcada por desigualdades no acesso. Muitas
regiões não dispõem de unidades com tomografia 24 horas, o que
compromete o diagnóstico e o tratamento precoce. Investir em redes
regionais de atendimento, campanhas de conscientização e capacitação das
equipes de saúde é considerado essencial por especialistas para reduzir
o impacto da doença. Por Cinthya Brandão