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Deformidade torácica afeta autoestima e muda rotina de jovens
Uma alteração discreta na parede torácica pode ser o suficiente para transformar o comportamento social e emocional de um adolescente. Conhecido como pectus, o conjunto de deformidades no osso esterno e nas costelas afeta principalmente meninos, surgindo geralmente na infância e se acentuando na puberdade, fase em que os padrões estéticos ganham força e a autoestima pode ser profundamente abalada. O pectus é dividido em dois tipos principais: o excavatum, quando o esterno se apresenta afundado, e o carinatum, quando há uma protuberância óssea. A condição é mais comum do que se imagina e pode estar presente em cerca de um a dois por cento da população, com forte influência genética. Em muitos casos, não há comprometimento funcional, mas o impacto psicológico é evidente. “O pectus não é apenas uma questão estética. A dificuldade de se expor e o sentimento de inadequação são frequentes. Há jovens que evitam ir à praia ou trocar de roupa em vestiários por vergonha da própria imagem”, explica o cirurgião torácico Pedro Leite, diretor do Núcleo de Cirurgia Torácica do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR). Entre as opções de tratamento estão o uso de órteses torácicas — especialmente eficazes em adolescentes com arcabouço ósseo mais flexível —, fisioterapia postural e, nos casos mais severos, procedimentos cirúrgicos. “Para o tipo excavatum, a técnica minimamente invasiva com barra de Nuss vem ganhando espaço, permitindo bons resultados com menor impacto pós-operatório. A barra permanece no tórax por aproximadamente três anos, sendo retirada em seguida”, descreveu o especialista. O empresário V.P., 32 anos, viveu essa experiência na pele. Diagnosticado com pectus excavatum aos oito anos de idade, passou grande parte da vida tentando esconder a deformidade. “Na adolescência, juventude e idade adulta, eu fazia o possível para esconder. Abalava minha autoestima. Praia, só de blusa. Piscina de condomínio, nunca”, conta. A mudança veio com a cirurgia realizada aos 31 anos. “Hoje, quando chego do trabalho, a primeira coisa que faço é tirar a camisa. Na praia também. Foi libertador!” Ele também destaca a importância da rede de apoio familiar, especialmente no processo emocional que antecede e sucede a cirurgia. “A rede de apoio familiar foi muito importante, sobretudo no que diz respeito aos aspectos psicológicos. É uma condição que mexe com a cabeça da gente, e ter pessoas ao lado faz toda a diferença.” A idade ideal para o tratamento cirúrgico, segundo especialistas, é logo após o chamado “estirão” do crescimento, quando a caixa torácica ainda possui certa flexibilidade, mas já atingiu um estágio mais estável. Ainda assim, adultos com maior rigidez óssea também podem ser operados com segurança, graças ao avanço das técnicas e materiais utilizados atualmente. Pedro Leite alerta ainda para a importância do acompanhamento precoce. “Pacientes muito novos, abaixo dos 10 ou 12 anos, devem ser acompanhados de forma rotineira por um especialista. Medidas não cirúrgicas, como exercícios posturais, orientação nutricional e prática esportiva, podem ajudar a conter a progressão da deformidade e preparar o caminho para o tratamento definitivo”, conclui o cirurgião torácico. Por Cinthya Brandão