Foto: Divulgação/Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - As cadeiradas da Democracia = André Naves
As eleições municipais são um momento
crucial de renovação política, em que a sociedade deveria ter a
oportunidade de debater ideias e discutir soluções concretas para os
problemas que afligem o cotidiano urbano. Entretanto, as eleições
paulistanas, salvo raras exceções, têm se transformado em um triste
espetáculo de acusações, insultos e mentiras, em vez de uma arena para o
confronto de ideias que visem o bem comum. O que deveria ser uma
oportunidade para os candidatos
apresentarem projetos para melhorar a vida da cidade, especialmente para
as pessoas com deficiência e seus cuidadores, se torna um palco de
agressões, onde cadeiras são arremessadas metaforicamente (ou até
literalmente) em vez de
propostas.
Esse cenário reflete um deserto de
propostas concretas sobre temas fundamentais para a vida urbana, como
zeladoria, urbanismo, mobilidade, saúde e educação. Em uma cidade como
São Paulo, a ausência de discussões sobre a acessibilidade das
calçadas, a iluminação pública e as políticas de proteção social revela a
falta de compromisso com a inclusão e com a dignidade da pessoa humana.
As pessoas com deficiência, que dependem de um ambiente urbano
acessível e seguro, ficam esquecidas
em meio ao caos eleitoral. Elas, assim como seus cuidadores, permanecem à
margem, sem que seus direitos sejam devidamente contemplados nas
plataformas eleitorais.
O vácuo de propostas é preenchido por
uma espetacularização vazia, onde o debate de ideias é substituído por
uma troca incessante de ofensas. A democracia, que deveria ser uma
oportunidade de engajamento construtivo, é ofuscada pela
superficialidade de discursos que apelam ao emocional, mas que carecem
de substância. Essa dinâmica contribui para a alienação do eleitor, que,
desiludido com a falta de alternativas concretas, muitas vezes opta
pela abstenção ou por votos motivados
mais por rejeição a um candidato do que por afinidade com propostas.
O tema da emergência climática, que
afeta todos, mas especialmente as pessoas com deficiência, exemplifica
bem esse cenário. Em um momento em que a crise climática já causa
impactos profundos no cotidiano das grandes cidades, como eventos
extremos
e o aumento das doenças respiratórias, há um silêncio ensurdecedor sobre
políticas que enfrentem essas questões de forma inclusiva e eficaz. As
pessoas com deficiência, por sua vulnerabilidade, são ainda mais
afetadas por esses fenômenos, e a
ausência de políticas que lhes garantam segurança, mobilidade e saúde é
um reflexo do descaso generalizado com as minorias.
Diante desse panorama, cabe a nós,
eleitores, um papel fundamental. Não podemos permitir que a democracia
seja reduzida a um teatro de ofensas e espetáculo vazio. Temos a
responsabilidade de investigar, questionar e cobrar dos candidatos
propostas
concretas que enfrentem os problemas reais da cidade. Quem ocupará a
cadeira mais importante do município, a de Prefeito, deve ter como
prioridade a promoção da inclusão social, o cuidado com a cidade e com
seus cidadãos mais vulneráveis, e o
compromisso com o futuro, especialmente diante das urgências climáticas e
sociais que nos cercam.
É essencial que fiquemos atentos aos
charlatões que se alimentam do ódio e da desinformação. A cadeira do
Prefeito não pode ser ocupada por aqueles que desprezam a inclusão e a
cidadania, mas sim por quem tenha coragem e competência para
transformar o espaço urbano em um local acessível, seguro e acolhedor
para todos. Neste momento de escolhas, nossa decisão definirá o rumo da
cidade, e é preciso que ela seja feita com base na razão, e não nas
cadeiradas de ódio e insultos que
tentam mascarar a falta de propostas.
Assim, ao invés de permitir que a
política municipal continue mergulhada no vazio de ideias e valores,
precisamos exigir mais. Segurança, acessibilidade, educação, saúde,
cultura e proteção social são direitos de todos, e cabe a nós garantir
que esses temas ocupem o centro do debate. As eleições são o momento de
erguer a voz contra os que tentam transformar a política em um show de
horrores, e reafirmar o compromisso com uma cidade mais justa, inclusiva
e humana para todos os seus
habitantes.