ARTIGO - A volta dos Presidentes Civis - Por Rocha Martinez
A Ditadura Militar esvaiu-se, apesar de deixar muitas pessoas ligadas aos órgãos chaves, a saber: O SNI, SUPERINTENDENTES DA POLÍCIA FEDERAL, COMANDANTES DE BATALHÕES DE POLÍCIA, DELEGADOS DE POLÍCIA, REITORES, PROCURADORES E FUNCIONÁRIOS EM DIVERSAS UNIVERSIDADES, INSS, CHEFES E DIRETORES EM GRANDES EMPRESAS ESTATAIS, PETROLÍFERAS, QUÍMICAS E SIDERÚRGICAS, além de BANCOS ESTADUAIS e OUTRAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Os civis convenientes, ávidos por abocanhar a Presidência tiveram de engolir a eleição do Presidente Tancredo Neves, que não tinha a simpatia do último presidente militar, o qual sempre se referia a ele, como Tancredo “Never”, expressão da língua inglesa que traduzia em refutar a possibilidade de assumir a Presidência com um NUNCA! Infortunadamente, o Presidente eleito adoeceu e faleceu, antes da posse. A assunção da Presidência deu-se pelo Vice-Presidente eleito, apesar da discordância do Presidente João Batista Figueiredo, que o certo era ter outra eleição. Entre as interpretações jurídicas de diversas correntes, opinou-se que o certo era empossar o Vice-Presidente. Lamentavelmente ficou uma dúvida, pois, disseram que os militaristas achavam melhor o vice, que outro presidente. Sem o aval do “establishment” até recentemente vigente. Assim o Presidente José Sarney assumiu o governo em 15/03/1985 e ficou no mandato pelo período de 05 (cinco) anos.
Apesar da situação difícil em que assumiu manteve-se no poder; o fôlego político, inclusive internacional, já não era tão favorável, a situação econômica era periclitante a tal ponto, que em discurso público transmitido por diversos canais de TV, inclusive a Globo, ele ressaltou sobre a irresponsabilidade do Senador Ulisses Guimarães, em querer fazer o que não se podia dizendo “que os cofres do tesouro nacional estavam vazios, não tinha um tostão”.
Entrementes a oposição política agigantara-se, ademais, o ciclo de bons dividendos já não fazia parte da bonança que medrou durante certo tempo, ou seja, até antes do governo do general João Batista Figueiredo. O que se exprimia através de apoio e aportes das nações capitalizadas, como EUA, Japão e Alemanha, que sob a batuta de um maestro regia o Concerto, para legitimar o governo que começou cambaleante e alcançou níveis históricos de crescimento.
O presidente José Sarney ao expirar o seu claudicante governo, viu-se sucedido por um jovem arrogante. Fernando Collor de Melo, que experimentou um desgastante “impeachment”, e, antecipou-se para não ser desapeado do poder com uma antecipada renúcia, quando então foi sucedido pelo seu Vice-Presidente, Itamar Franco, o qual, apesar de muito arrebatado pessoalmente, não se portou com arrogância e soube em sua interinidade governar o país com serenidade e objetividade. Foi sucedido no governo por Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu e consolidou-se no poder por 02 (duas) gestões.
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso foi de uma administração equilibrada. Controlou a inflação crônica, inverteu a deficitária Balança Comercial, passando o país a ser superavitário, taxou os produtos importados, que eram supérfluos, bem assim, desvinculou a dependência crônica e secular do endividamento externo, que fazia o tesouro nacional sangrar permanentemente, perdendo divisas, sem aparente solução, pois dependente do câmbio regulado pelo dólar americano, permanecendo sempre sem reserva monetária. O emprego foi ampliado e, a nação consolidou-se como uma grande produtora no setor do agronegócio e minerais, principalmente no que concerne a carne bovina, suína, frango, soja, álcool, açúcar, suco de laranja, madeira, e minério de ferro. Isto tudo sem falar na exportação de carros e eletrodomésticos, para inúmeros países da América Latina.
Passou-se o período de Fernando Henrique, as duas gestões, que cedeu lugar a Luís Inácio Lula da Silva, o qual recebeu um país organizado, apto a se transformar em um poderoso Estado, no mínimo seguindo o saudável Canadá e a luminosa Austrália, que souberam aproveitar as oportunidades de crescimento e se consolidaram. O início foi bom. O entusiasmo tomou conta dos brasileiros mais humildes, que vislumbraram perspectivas anteriormente nunca experimentadas. Lula dizia publicamente que logo os brasileiros veriam o espetáculo do crescimento e, após um ano sucederam-se muitas vitórias, que mesmo a administração anterior de FHC ficou receosa de encampar. Mas, muitos mecanismos populares, que facilitaram grande parte da população alcançar um nível de satisfação de consumo, se por um lado trouxe crescimento e até desenvolvimento social, por outro lado, concomitantemente, constatou-se um descontrole, falta de fiscalização, e por fim adveio a corrupção, com grande elasticidade, que foi grassando, infelizmente, por toda administração governamental. O governo de Lula terminou o primeiro período já batizado com um grande escândalo, mas, insuficiente para nocauteá-lo, pois, submeteu-se à reeleição e angariou outra vitória, que fez o sindicalismo fortalecer-se e o Partido dos Trabalhadores aumentar a sua bancada parlamentar. Lula terminou o governo e seguiu-se outro governo petista.
Foi eleita presidente Dilma Rousseff, a qual terminou o primeiro mandato imerso em escândalo, porém, ainda assim, com um abafamento pesado conseguiu se reeleger. A tormenta do segundo mandato foi uma constante, pois, mesmo a presidente não tendo sido condenada por ato de corrupção, os membros do Partido dos Trabalhadores, e, outros reconhecidos líderes da agremiação estavam atolados no lodaçal. Com base no esgarçamento, orquestrou-se uma trama política-judicial, que acusou a chefe da nação de ter antecipado recursos do orçamento do ano vindouro, para fechar as contas do exercício em curso. A este ato, que no exercício passado não tinha previsão legal, deram o nome de “pedalada”. E, sem os votos necessários no Congresso Nacional, inclusive por conta da mesma arrogância de Fernando Collor de Melo, a presidente sucumbiu perante um “impeachment”, que dada as circunstâncias do teor do ato, a tal “pedalada”, não precisaria tal penalidade. O Vice-Presidente Michel Temer assumindo o governo. O período do Vice-presidente foi curto e igualmente tumultuado, mas, ainda assim deu uns ares de arrumação, pois a casa estava muito bagunçada.
Rocha Martinez exercitou a advocacia é escritor, tem 04 (quatro) livros escritos, além de ser Contista e Cronista.