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Dezembro Vermelho: alta de 17% em casos de HIV entre jovens baianos reforça necessidade de prevenção
No mês de conscientização sobre a luta contra o HIV/aids, médicos especialistas alertam para o aumento de ocorrências entre adolescentes e jovens na Bahia, reforçando a necessidade de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento acessível. De acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), divulgados em agosto de 2025, houve um crescimento de 17% nos casos na faixa etária de 14 a 19 anos, embora o órgão tenha negado a existência de um “surto”, atribuindo parte do aumento à maior testagem.
Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, a Bahia registrou 11.187 casos de HIV/aids em todas as idades, sendo 93 deles entre adolescentes. Esse cenário, embora positivo em termos de detecção, exige ações direcionadas de saúde pública para combater o estigma e promover a educação sexual. Paralelamente, o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) dobrou no estado, alcançando mais de 100 mil usuários em 2024, uma ferramenta essencial para prevenir infecções em grupos de risco.
A médica Maria Alice Sena, da Hapvida, destaca que o aumento de diagnósticos entre jovens pode ser explicado por fatores como a ausência de convivência com os piores quadros da pandemia inicial de HIV/aids. “Eles encontraram uma doença controlável, com tratamento de fácil administração e poucos eventos adversos, o que vem rompendo a barreira do medo da infecção”, explica. Além disso, o incentivo à testagem resulta em diagnósticos mais precoces, permitindo um melhor controle da doença. No entanto, a disponibilidade de PrEP e profilaxia pós-exposição (PEP) podem gerar um falso senso de segurança, contribuindo para práticas sexuais não seguras, como sexo desprotegido.
Maria Alice enfatiza a importância de derrubar mitos que ainda persistem no consultório. “Os principais são: achar que a pessoa infectada pelo HIV, ou com aids, tem uma cara, que está estampado em seu rosto e corpo os estigmas da infecção, que a infecção só ocorre em pessoas com práticas homoafetivas ou que possuem diversas parcerias”, afirma. Ela elucida que qualquer pessoa que pratique sexo desprotegido ou compartilhe agulhas que entrem em contato com a corrente sanguínea está em risco.
Sobre transmissão, a especialista reforça que o HIV se propaga pela via sanguínea, sexual ou vertical (da mãe para o filho). “Não há possibilidade de transmissão pela via respiratória, nem pelo contato direto com a pessoa infectada, pelo suor ou pelo beijo”, diz. Para proteção prática no dia a dia, recomenda evitar sexo desprotegido, múltiplas parcerias sem preservativo, uso de drogas recreativas durante o sexo, compartilhamento de seringas e agulhas, além de garantir a esterilização de instrumentos médicos. Testagens frequentes para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são fundamentais.
Um avanço significativo é a PrEP, disponível no SUS, sob orientação médica, para maiores de 15 anos em situações de risco elevado, como parceiros de HIV positivos, múltiplas parcerias sexuais, uso irregular de preservativos, histórico de ISTs ou acompanhantes. "A PrEP é indicada para pessoas que, em decorrência de se entenderem sob risco elevado de exposição ao HIV, por suas práticas, precisam já estar em uso de medicamento para evitar a contaminação", explica Maria Alice. Já a PEP (profilaxia pós-exposição) é para quem teve uma exposição concreta ao vírus e não usa PrEP, devendo ser iniciada o mais breve possível após o risco para prevenir a infecção.
O aumento na testagem, impulsionado por iniciativas como a estratégia “Fique Sabendo” e a descentralização na Atenção Primária, influencia diretamente os números. Dados da Sesab mostram que a taxa de incidência de HIV na Bahia subiu de 15% em 2020 para 22,2% em 2024, com uma leve redução para 18,3% até novembro de 2025. Para aids, os índices variaram de 5,7% em 2020 para 8,5% em 2023, caindo para 5,7% este ano. Segundo o órgão estadual, o incremento de notificações está relacionado à maior detecção precoce. A mortalidade pela doença diminuiu, registrando 564 óbitos em 2024 (taxa de 3,8%).
O estigma continua sendo um obstáculo. "O medo é o principal rival da prevenção e do tratamento precoce. A estigmatização da pessoa convivendo com o HIV ainda traz muita apreensão, o desconhecimento do tratamento e de sua eficácia também são pontos de fragilidade", alerta a infectologista. Hoje, o HIV é uma condição controlável, com tratamentos que envolvem poucos comprimidos diários e efeitos adversos mínimos, contrastando com o histórico de complicações dos anos iniciais. O Ministério da Saúde visa que 95% das pessoas infectadas sejam diagnosticadas, 95% delas tratadas e 95% com carga viral indetectável, tornando o vírus inofensivo para a saúde pública.
Para os jovens, Maria Alice deixa uma mensagem direta: “O protagonismo da nossa saúde nos pertence, é preciso responsabilidade em tudo que fazemos e que pode nos afetar ou aos nossos circunstantes”.
Por Bianca Rocha
