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Goiás atinge balanço “carbono positivo” no uso da terra: vegetação remove mais CO? do que emite desde 2006
Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém, o estado de Goiás chega com uma boa notícia para o clima. Um levantamento inédito aponta que, desde 2006, o setor florestal goiano remove mais dióxido de carbono (CO?) da atmosfera do que emite. Em outras palavras, o estado alcançou um balanço “carbono positivo” nas mudanças de uso da terra — resultado de uma combinação entre queda no desmatamento e aumento da recuperação da vegetação nativa. As estimativas são do Earth Innovation Institute (EII), organização internacional de pesquisa sediada em Berkeley (EUA), contratada pelo Governo de Goiás. O instituto atua em programas de conservação florestal e desenvolvimento rural de baixo carbono em países como Brasil, Colômbia e Peru. A análise utilizou dados da empresa Chloris Geospatial Inc., especializada em sensoriamento remoto de alta resolução, a partir de medições diretas da biomassa acima do solo, obtidas por satélite e tecnologia LiDAR, capazes de gerar mapas anuais de estoques e variações de carbono desde o ano 2000 com precisão de até 10 metros. O mapa, a seguir, apresenta o balanço dos estoques de carbono acima do solo em toneladas entre 2000 e 2024. O estudo aponta que o ganho de biomassa florestal em Goiás vem crescendo de forma consistente nas últimas duas décadas, impulsionado pela recuperação de vegetação secundária — áreas que se regeneram naturalmente ou por meio de plantio após a remoção da cobertura original. A análise indica que, até 2024, o estado apresenta um balanço líquido de 513 milhões de toneladas de CO? equivalente. "Goiás apresenta resultados expressivos de ganho de biomassa florestal, reflexo da recuperação da vegetação nativa”, afirma Daniel Nepstad, diretor executivo do EII e coordenador do estudo. “Com a queda do desmatamento, é importante monitorar as emissões por incêndios florestais, que ainda representam uma ameaça crescente”, alerta. Cerrado em destaque na agenda climática Enquanto o foco das políticas federais de redução de emissões tem sido a Amazônia — com instrumentos como o Fundo Amazônia e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre —, Goiás vem mostrando que o Cerrado também tem papel de protagonista na agenda climática. Em 2024, o estado registrou a menor taxa de desmatamento de sua série histórica, consolidando-se como líder entre as unidades federativas do bioma em controle e monitoramento ambiental. Autoridades e especialistas atribuem esse desempenho à modernização das políticas públicas e à adoção de práticas mais sustentáveis pelo setor agropecuário. O governo estadual tem aprimorado o licenciamento ambiental, reforçado a fiscalização e implementado programas de pagamento por serviços ambientais (PSA). Do lado do campo, produtores rurais têm aumentado a produtividade sem expandir a fronteira agrícola — reduzindo a pressão sobre áreas nativas. O avanço de Goiás também foi reconhecido em nível nacional. A Comissão Nacional para REDD+ (CONAREDD+) aprovou recentemente a elegibilidade do estado para captação de recursos pela redução do desmatamento e da degradação florestal. A decisão, tomada durante reunião do colegiado do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), confirma que Goiás está apto a acessar pagamentos por até 182 milhões de toneladas de CO? equivalente (tCO?eq) que deixaram de ser lançados na atmosfera entre 2011 e 2020. Segundo o MMA, o reconhecimento demonstra o compromisso do estado com as diretrizes de REDD+, garantindo salvaguardas socioambientais, transparência e mecanismos de participação. A elegibilidade também reforça o protagonismo de Goiás na integração entre conservação ambiental e desenvolvimento sustentável, abrindo caminho para novas parcerias e financiamentos internacionais voltados à proteção do Cerrado. Goiás mira liderança em créditos de carbonoOs resultados reforçam a estratégia de Goiás de estruturar um Programa Jurisdicional de REDD+ (JREDD+), que deve abrir novas oportunidades de financiamento para políticas públicas e ações de desenvolvimento rural de baixa emissão. O governo pretende aperfeiçoar o sistema de monitoramento e consolidar as bases para gerar créditos de carbono reconhecidos internacionalmente. “Goiás chega à COP30 com um papel positivo na proteção das florestas e na redução das emissões. Os compradores de commodities do estado podem se orgulhar de importar de uma região com balanço carbono positivo”, destaca Nepstad. Segundo ele, o desempenho goiano pode servir de exemplo para outros estados e países: um modelo de integração entre agropecuária produtiva, conservação florestal e economia de baixo carbono. Se mantiver essa trajetória, Goiás poderá se tornar a primeira jurisdição do mundo a emitir créditos de carbono de remoção em larga escala — financiando a restauração ambiental, o manejo integrado de fogo, e ampliando o protagonismo do Cerrado na luta global contra a crise climática.
Por Alessandra Bizoni |
