
Este tipo de tumor corresponde à maior parte das neoplasias malignas de pulmão / Foto: Ilustração IA
Estudos trazem bons resultados de novas classes de medicamentos para o tratamento de câncer de pulmão avançado
O uso de novas classes de medicamentos, conhecidos por anticorpos bispecíficos e conjugados, traz esperança para pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células em estágio avançado. É o que apontam dois estudos apresentados neste domingo (19) na 41ª Conferência da Sociedade Europeia de Medicina Oncológica (ESMO), em Berlim, na Alemanha. Esse tipo de tumor responde pela maior parte das neoplasias malignas do pulmão, sendo a principal causa de morte por câncer em homens no Brasil, e a segunda em mulheres.
“São duas novas estratégias, além da quimioterapia e da
imunoterapia, que estão surgindo para tratar o câncer de pulmão”,
comemora , Clarissa Baldotto, oncologista especialista em câncer
torácico da Oncologia D’Or e coordenadora do Programa de Residência
Médica em Oncologia no Instituto D’Or (IDOR) no Rio de Janeiro.
Os anticorpos biespecíficos são proteínas criadas em laboratório, que imitam os anticorpos naturais do corpo. São chamados de biespecíficos porque se ligam a dois antígenos (substâncias estranhas ao corpo) ao mesmo tempo. Em alguns desses medicamentos, uma parte se liga às células cancerígenas e outra às células do sistema imunológico. Essa conexão permite que o sistema imune detecte e destrua o tumor.
Estudo HARMONi-6
O estudo fase III HARMONi-6 avaliou a eficácia de dois medicamentos combinados com a quimioterapia para o tratamento de carcinoma escamoso de pulmão, um tumor fortemente associado ao tabagismo, que responde por 40% dos casos da doença. “É uma doença difícil, que possui poucas alternativas terapêuticas”, explica a médica Clarissa Baldotto.
A pesquisa comparou o uso de um novo medicamento, o anticorpo biespecífico Ivonesimab , com o do imunoterápico Tislelizumabe, que hoje é considerado padrão. Ambos foram administrados em combinação com a quimioterapia.
O estudo envolveu 532 pacientes, dos quais 266 para cada braço. A combinação ivonescimabe-quimioterapia proporcionou a redução de risco de 40% de evolução (progressão ou crescimento) do tumor comparado com a administração de imunorepia e quimioterapia.
A progressão livre da doença (PFS, em inglês) foi de 11,1 meses no grupo que recebeu o anticorpo biespecífico comparado a 6,9 meses com aquele que recebeu imunoterapia. A PFS mensura o tempo que o medicamento conseguiu controlar o tumor, provocando a redução de seu tamanho ou sua estagnção. Quando ele volta a crescer, os médicos trocam o medicamento.
Estudo OptiTROP-Lung04
O câncer de não pequenas células de pulmão com mutação de EGFR é uma doença menos comum, normalmente tratada com terapia-alvo, mas com um tempo de controle da doença ainda limitado e resultados com a quimioterapia insatisfatórios. O estudo OptiTROP-Lung04 avaliou a eficácia e a segurança do anticorpo conjugado Sacituzumabe tirumotecano em comparação com a quimioterapia à base platina em pacientes com esta enfermidade.
O medicamento Sacituzumabe tirumotecano é um tipo de terapia que ataca e destrói as células cancerígenas. Ele se liga a uma proteína chamada TROP-2, que existe na superfície de várias células cancerosas, e entrega um agente de quimioterapia diretamente ao tumor, minimizando os danos às células saudáveis. “Os pesquisadores demonstraram que essa medicação melhora o controle da doença, fazendo com que os pacientes vivam mais tempo”, observa Clarissa Baldotto.
A pesquisa incluiu 376 pacientes, do quais metade foi submetida ao novo tratamento e os demais à quimioterapia. Em 18,9 meses, a progressão livre da doença foi de 8,3 meses no grupo que tomou a nova medicação ante 4,3 meses dos pacientes submetidos à quimioterapia.
Por Nora Ferreira