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Escritoras baianas vencem concurso literário de obras infantis afro-centradas
A Editora Eiros, comprometida com a valorização da diversidade cultural, anunciou os dez vencedores do concurso “Histórias que Transformam”, iniciativa que visa revelar e dar visibilidade a novos talentos da literatura infantil. As obras selecionadas abordam temas da literatura afro-brasileira, afrifuturista, indígena e quilombola, reafirmando o papel da editora na promoção da representatividade e da diversidade cultural. Entre os vencedores, estão as baianas Débora Maria dos Santos, Kaíssa Fonseca da Silva e Iane Santos de Araújo.
Débora Maria dos Santos, de Salvador, escreveu O Caminho Misterioso e o Segredo da Floresta, uma aventura mágica vivida por dois irmãos indígenas, Jaci e Cauê, na floresta onde moram. Eles descobrem um caminho misterioso que os leva a uma experiência sobrenatural: presenciar a chegada dos portugueses ao Brasil, como se tivessem voltado no tempo. Com a ajuda de um papagaio e da Árvore Sábia, os irmãos aprendem sobre a importância de respeitar e proteger a natureza. A mensagem central do texto é a valorização da sabedoria indígena, da preservação ambiental e do respeito à terra.
“A história é importante porque permite às crianças conhecerem e valorizarem as culturas originárias do nosso país. Vivemos em um país onde a educação é baseada, muitas vezes, em uma visão eurocêntrica. Por isso, trabalhar com a etnoeducação, com a valorização da cultura afro e das vivências dos alunos é fundamental. Como professora, acredito em manter os pés no chão e apresentar a realidade às crianças de forma acessível, mas sem distorções. O lúdico permite que os conteúdos históricos sejam compreendidos de maneira mais leve, despertando o interesse e o senso crítico. A ludicidade aliada à prática e à teoria gera um aprendizado mais significativo e verdadeiro”, conta a escritora, que também é pedagoga, psicopedagoga e mestre em Ciências da Educação.
Já Iane Santos de Araújo, de Camaçari, apresenta As Esteiras de Piri da Vovó Pixe, que aborda o processo artesanal e cultural da colheita e confecção de esteiras feitas com a planta piri, liderado por Vovó Pixe e sua família. Ele mostra como essa prática envolve várias gerações — desde a colheita no rio e secagem da planta, até o tear manual feito com criatividade e sabedoria. Além de produzir esteiras para uso e venda, o momento é também de partilha de histórias e fortalecimento dos laços familiares. A narrativa valoriza o conhecimento ancestral, o trabalho coletivo, o artesanato tradicional e a transmissão de saberes entre gerações.
“Gosto muito de escrever. Poemas então, amo. Escrevo desde os 7 anos, e me expresso melhor escrevendo. Consigo passar a mensagem que quero, e ser conhecida e reconhecida pela minha escrita. Minha avó fabricava as Esteiras de Piri, e além de vendê-las, eram utilizadas para uso no cotidiano. Sentávamos nas esteiras para nos alimentarmos, brincar, escutar histórias e, também, para dormir. Vovó era uma mulher de garra, e uma artesã maravilhosa, ainda que não soubesse disso, pois para ela, o que construía com suas mãos era algo que não poderíamos comprar, o melhor era ela mesma fazê-los”, conta a pedagoga.
Kaíssa Fonseca da Silva, também de Salvador, traz a obra Alika e o Mistério do Bilhete. Na história, Alika encontra uma cartinha no quadro de "Bilhetes de Elogios" na sua escola que a deixa intrigada. Em um ato de coragem, decide investigar quem o escreveu. O texto é sobre empatia, diversidade e a importância da comunicação. Ele mostra como um comentário pode ser mal interpretado, mas também como o diálogo sincero pode transformar mágoas em amizade, valorizando a autoestima, especialmente em relação ao cabelo crespo, e ensina que cada pessoa é única e merece respeito por suas características.
“A história surgiu de uma reflexão pessoal. Desde pequena, tive dificuldade em expressar meus sentimentos quando algo me incomodava. Me fechava, esperando que o outro entendesse, e percebi que muitas crianças também passam por isso. Às vezes, alguém próximo muda o comportamento e a gente nem sabe o motivo. Isso me inspirou a criar uma história que aborda justamente a importância da comunicação. Acredito que as crianças podem aprender, de forma leve, sobre a importância de se expressar, escutar o outro e serem ouvidas. Desejo que essas crianças sejam corajosas, que falem o que sentem e não tenham medo de enfrentar a vida. O silêncio não resolve tudo, falar transforma”, revela Kaíssa.
O projeto é parte do compromisso contínuo da Editora Eiros com o fortalecimento da identidade cultural negra, indígena e quilombola, além de incentivar o diálogo entre gerações e comunidades. A proposta é estimular a produção de narrativas infantis que expressem a riqueza da diversidade brasileira, contribuindo para a construção de uma literatura transformadora e inclusiva. As obras selecionadas serão publicadas em Língua Portuguesa, com ampla visibilidade nacional e internacional. O lançamento está previsto para o final de novembro.
“Publicar por meio da Editora Eiros é um marco na carreira de qualquer autor, pois nosso compromisso com a qualidade, com o conteúdo transformador e com a visibilidade dos autores é incomparável. Para nós, cada autor publicado não apenas ganha uma plataforma de expressão, mas também se torna parte de um movimento literário de relevância nacional e internacional”, afirma Felipe Locatelli, CEO da Eiros.
As obras das baianas serão publicadas em novembro pela Editora Eiros.
Por João Agner