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Observatório inédito no Brasil abre caminho para implementação da Política Nacional de Cuidados no estado da Bahia
A
Bahia ganhou um instrumento inédito para enfrentar uma das lacunas
históricas das políticas públicas: o trabalho dos cuidados. Foi lançada
em Ilhéus, no último dia 10, a plataforma Bahia Cuida – Observatório dos Cuidados, disponível em bahiacuida.org, que organiza e integra dados sobre demandas e serviços ligados aos
Cuidados, como saúde, educação, assistência social, gênero e raça. A
ferramenta foi desenvolvida pela Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) Sul da Bahia, Instituto Foz e Instituto Ori:Oro. A iniciativa chega dias antes de o Governo Federal anunciar um conjunto de ações que estruturam o Plano Nacional de Cuidados, política pública que contará com investimento de R$ 25 bilhões até 2027.
O
Observatório Bahia Cuida ataca uma lacuna histórica. O trabalho dos
cuidados — apoiar crianças, idosos, pessoas doentes, garantir
alimentação, limpeza e rotina — sustenta a vida social, mas nunca entrou
de forma estruturada nas contas públicas. A ausência de dados deixou o
tema invisível na formulação de políticas. A nova plataforma aposta no
contrário: informação qualificada como ponto de partida para
planejamento.
Ilhéus
foi escolhida para o lançamento por integrar o projeto-piloto de
territorialização dos dados. No município, o Bahia Cuida já dialoga com a
implementação da Política Nacional de Cuidados,
iniciativa do governo federal que busca reconhecer o trabalho do cuidado
e reorganizar responsabilidades entre Estado, famílias, mercado e
sociedade civil. A cerimônia reuniu a vice-prefeita e secretária de
Políticas para Mulheres, Wanessa Gedeon, e titulares das pastas de
Saúde, Educação, Cultura e Promoção Social.
Apoiado pelo edital Mover-se na Web, voltado a tecnologias sociais, o Observatório reúne indicadores intersetoriais e inicia o mapeamento — com georreferenciamento — de equipamentos públicos e privados relacionados ao cuidado, como creches, lares para idosos, abrigos, espaços culturais e unidades de saúde. A proposta é dar às gestões municipais uma base técnica estável para decisões e permitir que a sociedade civil acompanhe a oferta dos serviços.
Para Mariana Sales, secretária-executiva da ADR Sul da Bahia,
a inovação está no método. “O Observatório nos permite enxergar o
cuidado com mais precisão, a partir de dados comparáveis e atentos às
realidades locais. Isso fortalece municípios e estado na formulação de
políticas que respondem às necessidades concretas de meninas e
mulheres”, afirma.
A secretária de Cultura, Anarleide Menezes, cita um exemplo prático de política pública estimulada pela leitura dos dados: “Com acesso a dados secundários e primários, podemos pensar em um quarteirão dos cuidados, assim como já temos o quarteirão cultural. A Cultura pode ofertar atividades no contraturno escolar dentro das estruturas municipais”.
Os
dados secundários, exclusivos dos municípios, estão sendo levantados
com apoio das organizações parceiras e serão incorporados ao Bahia Cuida,
que opera em código aberto e linguagem simples para facilitar o uso por
gestoras e gestores públicos, pesquisadores, organizações sociais e
sociedade civil.
Alguns dados já disponíveis no Bahia Cuida ajudam a dimensionar o cenário: 80% do trabalho de cuidado não remunerado na Bahia é realizado por mulheres negras. O estado tem 1.903.719 pessoas com deficiência, das quais 79% são negras; e, no conjunto total de pessoas com deficiência, 44% são idosas.
O
projeto prevê ainda formação técnica — com trilhas específicas para
gestoras, sociedade civil e academia — e articulação de especialistas e
núcleos de pesquisa para compor uma governança colaborativa da agenda do
cuidado.
Para a vice-prefeita Wanessa Gedeon, o efeito imediato é ampliar a capacidade de planejamento. “Quando o município compreende seu cenário real, ele formula políticas mais sustentáveis e efetivas. O Observatório oferece exatamente essa base técnica”, diz.
O Bahia Cuida deve contribuir para a futura Política Estadual de Cuidados, consolidando indicadores e métodos que tendem a ser replicados por outros municípios baianos nos próximos anos.
Sobre a Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) Sul da Bahia
A Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) Sul da Bahia é uma organização sem fins lucrativos dedicada a impulsionar o desenvolvimento sustentável no território cacaueiro. Atua na articulação entre setor público, iniciativa privada, academia e sociedade civil para fortalecer cadeias produtivas estratégicas, ampliar oportunidades econômicas e promover inovação. A ADR coordena projetos estruturantes nas áreas de bioeconomia, gestão territorial, infraestrutura produtiva e qualificação profissional, conectando políticas públicas e iniciativas locais para gerar impacto social, ambiental e econômico na região.
Por Lívia Cabral
