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Encontro Nacional de Cinemas Negros da APAN destaca o poder das redes e o futuro do audiovisual afro-brasileiro
A cidade de Salvador será o palco da primeira edição do Encontro Nacional de Eventos de Cinemas Negros da APAN, um evento que visa fortalecer a rede de eventos de cinemas negros e afro-diaspóricos no Brasil. De 5 a 7 de novembro, o evento reunirá profissionais do audiovisual negro de todas as regiões do país para compartilhar experiências, discutir desafios e estratégias, e aperfeiçoar as práticas de curadoria e formação de plateias.
A iniciativa é promovida pela APAN (Associação de Produtores de Audiovisual Negro) em parceria com a Prefeitura de Salvador, a Dimas e a iAmo e conta com o apoio de curadores e especialistas renomados no cenário nacional e internacional. O evento pretende proporcionar um ambiente seguro e qualificado para discussões sobre a criação, organização e circulação de filmes negros no Brasil.
Segundo Tatiana Carvalho Costa, presidente da APAN, o evento já nasce com vocação para articular e consolidar uma rede de trabalho contínua entre iniciativas de cinema negro em todo o território nacional.
“O Encontro Nacional de Eventos de Cinemas Negros APAN é fruto de nosso planejamento estratégico e começou a ser construído nos nossos Encontros Regionais, no primeiro semestre deste ano” Declara.
“O Festival Griot iniciou sua trajetória em 2018, em Curitiba–PR, durante a graduação em cinema de seus fundadores, eu, Beatriz Gerolim e Kariny Martins, que buscávamos um espaço de visibilidade para cineastas negros que não apareciam no currículo do curso. Desde então, foram quatro edições, a última em 2023, quando o Griot se reposicionou como festival de cinema e passou a acessar recursos públicos municipais. O Griot tem sido um importante espaço de difusão e formação, especialmente na região Sul, exibindo filmes nacionais e internacionais e realizando oficinas e laboratórios de roteiro. Estar dentro desse Encontro da APAN é fortalecer ainda mais essa rede que faz o cinema negro circular”, afirma Andrei Bueno Carvalho, associado da APAN e diretor do Festival Griot.
Por que o Encontro é importante?
O Brasil possui atualmente cerca de 53 espaços dedicados à exibição de cinemas negros e afro-diaspóricos, um número que reflete o crescente protagonismo de cineastas e produtores negros nos últimos 20 anos. Com o apoio das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, novas produções e janelas de exibição surgiram, ampliando a visibilidade e o alcance do cinema negro no país.
Programação
A programação do evento contará com painéis, mesas de discussão, dinâmicas de co-criação, além de sessões de filmes, sendo algumas delas abertas ao público, como a homenagem ao Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, a sessão especial de Criadas, de Carol Rodrigues, e o painel sobre a formação de público para os cinemas negros no Brasil.
Destaques da programação:
Dia 1 (05/11):
Abertura e Homenagem ao Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul com a participação de Eventos de Cinema Negro da Bahia
Painel “Cinemas Negros Hoje” com Janaína Oliveira (Ficine), Bruna Santos (IAMO), Cíntia Guedes (UFBA), Tatiana Carvalho Costa(APAN), e mediação de Keyti Souza (APAN).
19h - Sessão comentada (Aberta ao público)
IAMO, Cine Lankiana - Quilombo do Coqueiro Grande, Avenida Aliomar Baleeiro, km 10, 5, 15 - Fazenda Grande IV, Salvador
Filme: Criadas
Ficção: 107 minutos
Direção: Carol Rodrigues
Sinopse:
Sandra e Mariana são primas e voltam a morar juntas na casa onde
cresceram. Sandra é negra de pele escura. Mariana é negra de pele clara.
No passado, a mãe de Sandra trabalhou como empregada residente para os
pais de Mariana. Ela não consegue se lembrar do rosto da mãe e acredita
que na antiga casa pode haver algo que a ajude. O reencontro é estranho,
desconfortável e abre antigas feridas. Enquanto lidam com as questões
de seu passado e os problemas do presente, não percebem que uma força
sobrenatural começa a agir.
Tatiana ressalta que o momento é importante para compreender o impacto desse crescimento e fortalecer a sustentabilidade do ecossistema audiovisual no Brasil, lembrando que “Cinema Negro é Cinema Brasileiro”.
“Queremos
discutir o contexto nacional atual dos cinemas negros, sua importância
para a nossa soberania cultural e imaginativa, considerando
especialmente o estímulo que veio de programas federais como a Lei Paulo
Gustavo e a Aldir Blanc. Essas políticas irrigaram a produção e
circulação de filmes de realizadores negros em todo o país. Agora é hora
de entender como essa produção tem chegado ao público e pensar
coletivamente sobre estratégias para consolidar esse movimento”, enfatiza.
Para Rodrigo Aquiles, associado da APAN e representante do estado do Amapá, “a
importância desse evento é principalmente pensar na distribuição e na
circulação desses filmes que os cinemas negros estão produzindo. É uma
oportunidade para trocarmos estratégias, fortalecer conexões entre
diferentes regiões e criar novos caminhos para as curadorias. Tenho
certeza de que será um fortalecimento gigantesco para o audiovisual
negro no Brasil, especialmente para os eventos que garantem que essas
obras cheguem ao público”.
O objetivo do Encontro é fortalecer a rede de eventos de cinemas negros, potencializando a circulação e a formação de plateia para as produções audiovisuais negras, além de aperfeiçoar as práticas de curadoria com curadores negros de referência internacional e promover a troca de experiências sobre captação de recursos e organização de eventos, estimulando a formação de uma rede nacional de eventos para promover o intercâmbio cultural e visibilidade.
“Em nome da EGBÉ, estamos muito felizes com a iniciativa da APAN em realizar este Encontro. Será um espaço fundamental para trocas de experiências e fortalecimento de parcerias entre os eventos de cinemas negros e a associação, bem como uma grande oportunidade de contato entre esses eventos”, afirma Luciana Oliveira, associada da APAN em Sergipe.
Quem Participa?
O
evento reunirá organizadores de mostras, festivais e iniciativas
voltadas à promoção de cinemas negros de todas as regiões do Brasil. A
APAN convida 10 eventos selecionados com base em sua relevância,
longevidade e representatividade regional.
A APAN também convida jornalistas, produtores e realizadores do setor para se juntarem a este movimento, que visa não só fortalecer a cena audiovisual negra, mas também debater e construir soluções coletivas para a crescente demanda por espaços e narrativas negras no cinema.
Por Luis Fernando
