Intolerância religiosa, preconceito disfarçado de brincadeiras, falta de acolhimento e representatividade, solidão. Esses e outros problemas, que evidenciam o alcance do racismo institucional no Brasil e estão impregnadas na vivência escolar de crianças negras, são tema de estudo e alvo de combate do livro Manual Prático de Educação Antirracista, do professor, músico e consultor antirracista do Instituto Vini Jr., Allan Pevirguladez. 

A obra, publicação da Cortez Editora, exemplifica como e por que o currículo eurocêntrico dominante na maioria das escolas brasileiras é insuficiente ao contextualizar conflitos raciais atuais e suas raízes históricas. Assim, torna-se falho, também, em acolher e cuidar da saúde mental de estudantes negros e indígenas.  

Com uma linguagem direta e baseada em experiências reais — como o caso de preconceito contra a filha da atriz Samara Felippo, que sofreu ofensas racistas de colegas —, o autor esclarece qual o real papel de professores, pais e gestores na construção de um ambiente de aprendizado que vá além da teoria e ensine, na prática, o combate à discriminação. 

Em 2022, Pevirguladez viralizou nas redes sociais com O meu cabelo é bem bonito, música que aborda o peso cultural de valorizar os fios crespos e encoraja as crianças a compartilharem o orgulho de seus cachos em voz alta. O sucesso evidenciou como a arte pode ser um instrumento de educação coletiva e deu origem à Música Popular Brasileira de Intenção Antirracista (MPBIA), projeto que visa ao letramento racial. 

Ao refletir sobre a falta de socialização e formação dos educadores com fundamentos e condutas antirracistas, o autor aproveita os conceitos da MPBIA para transformar o livro em um instrumento de orientação pedagógica. O objetivo é auxiliar professores e gestores na transmissão de mensagens de respeito e valorização da identidade negra.  

A obra propõe estratégias como a criação de atividades que apresentem diversidade étnica e cultural aos estudantes, evitando abordar esses temas com viés folclórico ou pontual — para ser eficaz, o ensino deve ocorrer durante todo o ano. Para isso, ressalta a importância de alinhar a temática ao Projeto Político-Pedagógico da escola, para que esteja presente no currículo de disciplinas como Língua Portuguesa, História, Geografia e Ciências. 

Além do ambiente escolar, o autor explora o racismo estrutural em outras esferas da sociedade, destacando o impacto de ações institucionais no combate à discriminação no esporte, como a condenação de torcedores do Valência por insultos racistas a Vini Jr. em 2023. Ele também ressalta a demanda por letramento racial nas empresas e como sua pedagogia antirracista pode impulsionar mudanças no meio corporativo. 

Manual Prático de Educação Antirracista é uma leitura essencial para quem deseja construir espaços mais justos e igualitários. Com uma abordagem inovadora e acessível, Allan Pevirguladez oferece não somente um guia prático, mas também um convite para repensarmos a educação e convivência social a fim de favorecer uma sociedade mais diversa e consciente de sua história. 

Ficha Técnica  

Título: Manual Prático de Educação Antirracista 
Autor: Allan Pevirguladez 
Editora: Cortez  
ISBN: 978-65-5555-468-7 
Páginas: 112  
Preço: R$ 45,00 
Onde encontrar: Amazon 

Sobre o autor
Allan Pevirguladez é professor na rede pública de ensino há 17 anos. É consultor antirracista do Instituto Vini. Jr, onde realiza ações formativas de letramento racial com os professores. Integra a Gerência de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Sua atuação como professor na Educação Infantil tornou-se referência internacional dentro da luta antirracista no Brasil, pois criou, a partir de suas composições musicais, um conceito de ensino que hoje é o mais replicado no país quando se fala em antirracismo: a pedagogia da Música Popular Brasileira Infantil Antirracista (MPBIA).

Sobre a editora
Foi a solidez do trabalho feito que estimulou a Cortez Editora a expandir e mostrar ao mundo toda a riqueza da cultura brasileira e a densidade ímpar de seus autores. Seu catálogo é referência nas áreas de Educação, Serviço Social, Ciências da Linguagem, Ciências Sociais, Ciências Ambientais e Psicologia. 

POR Luiza Marques Pereira