Foto: Divulgação / Arquivo O Candeeiro
Evento em Salvador debate uso de tecnologias para reduzir gargalos no diagnóstico do Câncer no Brasil
Entre os dias 20 e 23 de novembro, Salvador será palco do I Encontro Brasileiro de Patologia Digital e Computacional, evento que busca fomentar o uso de tecnologias inovadoras para enfrentar os desafios no diagnóstico de câncer e outras doenças. A programação, que acontece na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Bahia, reúne especialistas de diversas áreas e culminará com a fundação da Associação Brasileira de Patologia Digital e Computacional, iniciativa pioneira para fortalecer a integração entre Medicina Diagnóstica e a Computação.
O evento ganha relevância diante do aumento da incidência de câncer no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país deve registrar cerca de 704 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025, sendo que apenas em Salvador estima-se a ocorrência de 8.980 casos anuais de tumores malignos no mesmo período. Apesar disso, dados do Ministério da Saúde apontam que 58% dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) iniciam o tratamento em estágios avançados, o que implica um prognóstico desfavorável.
O Dr. Raimundo Gerônimo Jr., médico patologista e secretário adjunto da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), uma das entidades apoiadoras do encontro, destaca o potencial da Patologia Digital para reduzir os gargalos no diagnóstico de câncer no Brasil. Segundo ele, a digitalização de lâminas permite que patologistas compartilhem casos remotamente, acelerando o processo diagnóstico, especialmente em áreas com déficit de profissionais.
"Por exemplo, enquanto São Paulo conta com 1.159 patologistas, a Bahia possui apenas 229, e o Acre apenas 5 especialistas", compara Gerônimo Jr.
Além disso, o uso da inteligência artificial (IA) é apontado como uma aliada importante, permitindo que algoritmos auxiliem em tarefas repetitivas, liberando os especialistas para casos mais complexos. “Essas tecnologias melhoram a precisão diagnóstica e eficiência operacional, mas enfrentam barreiras de implementação no SUS devido aos altos custos e às disparidades regionais”, acrescenta Gerônimo Jr.
Associação - Um dos momentos mais aguardados do evento será a criação da Associação Brasileira de Patologia Digital e Computacional, uma entidade que busca unir patologistas, cientistas da computação e outros profissionais interessados no diagnóstico de doenças. “A fundação desta associação é um marco para alinhar os interesses locais às inovações globais, impulsionando soluções que melhorem a qualidade e eficiência do diagnóstico no Brasil”, avalia Gerônimo Jr.
Além da fundação da associação, o encontro contará com palestras sobre temas como epidemiologia do câncer, uso de inteligência artificial em diagnósticos laboratoriais e o impacto de novas tecnologias na atuação profissional de patologistas. O Dr. Washington Luiz Conrado dos Santos, patologista da Fiocruz Bahia e coordenador do evento, reforça que o encontro é uma oportunidade para compreender os desafios técnicos e éticos da transformação digital na Patologia. “Para os profissionais de Ciência da Computação, a Patologia Computacional também traz desafios únicos, como a análise de imagens massivas e dados complexos, que abrem portas para inovações em IA e big data”, completa.
Para o Dr. Raimundo Gerônimo Jr., este encontro marca o início de uma nova era na Patologia no Brasil. “Reunir profissionais de Medicina, Ciência da Computação e outras áreas em um só evento é essencial para o futuro da Medicina diagnóstica e enfrentamento das mais diversas doenças, incluindo o câncer”, conclui.
O evento é gratuito e aberto ao público, e promete ser um divisor de águas para a integração da tecnologia na Saúde brasileira.
Por Vinícius Lima