
Foto: Reprodução Instagram Preta Gil e Ozzy Osbourne
Mortes de Preta Gil e Ozzy Osbourne reacendem luto coletivo e escancaram a carência emocional de uma geração
O Brasil se prepara para o velório de Preta Gil, marcado para o dia 25 de julho no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A despedida da artista acontece três dias após a morte de Ozzy Osbourne, ícone mundial do rock, que faleceu aos 76 anos em Londres. A comoção em torno dessas perdas ultrapassa fãs e fronteiras e o que se vê é um fenômeno emocional coletivo, que transforma o luto privado em catarse pública.
Para a psicanalista Ana Lisboa, fundadora do Grupo Altis e uma das principais referências em saúde mental feminina, essas reações dizem muito sobre quem somos, o que admiramos e, principalmente, o que não elaboramos. “Quando uma figura pública parte, o que nos dói não é apenas a ausência dela. É a ausência simbólica do que ela representava. Preta era potência, afeto, coragem. Ozzy era o caos genial, o eterno sobrevivente. Quando eles vão embora, algo dentro de nós também se despede”, explica.
Ana observa que o luto coletivo, muitas vezes visto como exagero, é na verdade uma válvula emocional legítima, especialmente em uma cultura que ainda reprime o sentir.
“Essas perdas servem como gatilhos emocionais. Muita gente chora por Preta, mas também pela mãe que partiu sem adeus, pelo amigo que foi embora sem explicação, pelo amor que ficou suspenso no tempo. O luto se acumula onde não foi vivido.”
A comoção pública também revela um desejo de pertencimento que a vida moderna nem sempre oferece. “O compartilhamento de homenagens, vídeos, memórias, hashtags, tudo isso nos dá uma ilusão momentânea de comunidade. Por alguns dias, sentimos que não estamos sozinhos na dor. E esse sentimento de união, ainda que breve, é profundamente terapêutico”, afirma a psicanalista.
Preta Gil, com sua trajetória marcada por afeto, espiritualidade e resistência, e Ozzy Osbourne, com sua energia rebelde e inabalável, eram mais do que apenas artistas, eram arquétipos vivos. “Eles ocupavam um lugar simbólico nas nossas fantasias. Perder essas figuras é ser convidado, à força, a revisar o que realmente importa. Nossos afetos, nossos silêncios, nossas saudades.”
A psicanalista acredita que o luto coletivo, quando respeitado e vivido com consciência, pode se tornar uma alavanca de transformação. “Sentir dor não é sinal de fraqueza. É sinal de humanidade. E se há algo que precisamos reaprender com urgência, é a arte de sentir. Não para sofrer mais, mas para viver com mais verdade”, conclui.
Ana Lisboa @analisboa
Psicanalista, professora e CEO do Grupo Altis, Ana Lisboa é referência em saúde mental feminina, liderança com propósito e terapias sistêmicas. Fundadora da UniAltis, universidade reconhecida pelo MEC e dedicada à saúde emocional nas empresas, já impactou mais de 100 mil alunas em 72 países. Advogada, mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Autónoma de Lisboa, pós-graduada em Neurociências, Psicologia Positiva, Direito do Trabalho e especialista em Terapia de Casais. Lidera o Movimento Feminino Moderno, maior comunidade de transformação emocional para mulheres.
Por Gabrielle Monice