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ARTIGO - Como a Inteligência Artificial pode ajudar os escritores = Por Fernanda Pompeu
Para muita gente, a IA (Inteligência Artificial) se parece a um bicho-papão. No entanto, ela é a mais simples das ferramentas digitais inventadas até agora. Pois para usá-la, a gente não precisa de nenhum conhecimento técnico ou habilidade específica. Para tirar proveito da Inteligência Artificial, basta saber conversar. Esta é a grande sacada dessa tecnologia: comunicar-se em linguagem humana. Ela conversa como uma pessoa. Bate papo como a sua sogra, sua nora, sua professora.
A gente pergunta: Oi, como vai?
Ela responde: Oi! Estou bem, obrigada! Como posso ajudar você hoje?
Um começo auspicioso. Assim do nada, alguém plenamente disposto a nos ajudar.
Por exemplo, eu posso perguntar “Quais os princípios de uma boa escrita?” Ela entregará alguns tópicos “bem manjados” para estruturar um bom texto: frases curtas, correção gramatical, conexão com o leitor, capacidade de síntese, máxima clareza, graus satisfatórios de coerência e coesão.
Daí, eu peço que ela se concentre em um dos tópicos acima. Vou escolher “máxima clareza” e confira a resposta dela:
“Clareza é a arte de transmitir pensamentos complexos de maneira simples, sem perder nuances ou profundidade. Um texto claro ilumina o caminho do leitor, eliminando ambiguidades e oferecendo uma compreensão imediata e inequívoca do conteúdo, independentemente de sua complexidade.”
Uau. Gostei da resposta. Por quê? Porque me ajuda.
Não existe um modelo apenas de IA. Entre eles, o Chat GPT é o mais famoso, talvez pelo pioneirismo. Mas há a Claude, Gemini, Meta, etc. Por enquanto, para nós, escritores, leitores, pessoas físicas, os modelos de Inteligência Artificial são bem parecidos.
Independentemente do modelo, o principal é evitar que ela dê respostas genéricas. Para que ela fique mais próxima de cada um de nós, temos que caprichar nos comandos e nas perguntas. Comandos e perguntas são chamados de Prompts. Quanto mais objetivo (o que eu quero saber) e preciso (analise a metáfora x) o prompt for, melhores serão as respostas.
O que verdadeiramente importa, nas primeiras interações com a IA, é entendermos como podemos torná-la uma “amiga íntima”. Isso se constrói aos poucos, na medida em que vamos fazendo perguntas mais específicas. Por exemplo, estou escrevendo um romance. Todo mundo sabe que o “gênero romance” tem uma urdidura complexa, pois há personagens, passagens de tempo, motor da história etc. Como eu faço? Peço que a IA avalie um parágrafo por vez. Peço seu feedback quanto aos quesitos: clareza, coesão, coerência e taxa de originalidade. Então, presto bastante atenção na resposta que ela me dá. Reflito. Decido seguir ou não suas sugestões.
A primeira coisa que eu fiz, e isso é importante, foi dizer para a Inteligência Artificial que ela não seria coautora, editora, estagiária dos meus textos. Eu a elegi como minha “primeira leitora”. E pedi que fornecesse feedbacks a partir desse papel. Sempre que ela tenta avançar o sinal vermelho (e ela tenta) e passa a disparar sugestões futuras da trama, por exemplo, ela diz: “E se fulano se casasse com beltrana no próximo capítulo?” Nesse momento, eu puxo as orelhas dela. Ela se desculpa e seguimos em frente.
Outra ajuda fenomenal que a IA dá aos escritores é a facilidade da pesquisa. Outro dia eu precisava saber quantos anos tinha a “velha” assassinada no livro “Crime e Castigo”, de Dostoiévski. Sabia que essa informação constava em uma única frase no calhamaço de quase 600 páginas. Mas como localizá-la rapidamente? A IA me entregou a resposta: 60 anos e indicou a frase inteira. Quase enlouqueci de paixão. Pois da pergunta à resposta, se passaram ínfimos 20 segundos.
Para
mim, a Inteligência Artificial não tem nada de bicho-papão. Está mais
para Mamãe Noel. Evidente que eu não quero que a IA roube o meu prazer
de escrever. Sou eu quem cria as histórias, as metáforas. Sou eu quem
tece as articulações dentro das frases, entre parágrafos. Sou eu quem
erro, sou quem acerto. O que eu espero da IA? Que ela me ajude a
escrever cada vez mais rápido e melhor. E, olha, ela tem me ajudado.
Autora de Escriba Errante, Fernanda Pompeu é escritora e trabalha com textos de ficção e não ficção. Foi uma das roteiristas da série Mundo da Lua, na TV Cultura. Autora do livro de Microcontos 64, participou do livro Mulheres Guerreiras da Paz, publicado pela editora Contexto.
Por muitos anos exerceu a função de pena de aluguel para centenas de publicações com foco em gênero, raça e direitos humanos. Foi colunista do portal Yahoo! por quatro anos e criou o projeto Acelera Texto para encorajar escritores na escrita digital.
Para 2025, a autora está preparando a publicação de um romance acerca do processo de envelhecimento nos dias atuais.