Liliane e Robertinho/ Foto: Eric Bromme
Madeleine à Paris, um road-movie afro-queer tem pré-estreia na capital francesa
Um “roadmovie afro-queer entre Paris e a Bahia”, é assim que a cineasta Liliane Mutti descreve seu novo filme, que teve pré-estreia mundial no dia 13 de setembro, em Paris, integrando a programação da tradicional Lavagem de Madeleine. A obra retrata o cortejo afro-brasileiro, a partir de um olhar entrelaçado entre a festa e seu criador, Roberto Chaves (Robertinho), multiartista que há 30 anos saiu da cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano para ser uma estrela dos cabarés de Paris e idealizador da Lavagem, que todos os anos mobiliza mais de 60 mil pessoas na capital francesa.
“O filme mergulha no personagem de Robertinho, que a noite encarna o arlequim do cabaré Paraíso Latino e de dia é um filho de santo, e, através dele busca entender como essa nova tradição de lavar escadarias de igrejas de Paris coloca o candomblé pelas ruas da capital francesa”, revela a cineasta.
Com essa mistura de Bahia com Paris, o filme foi exibido na Embaixada do Brasil, em Paris, em uma sessão-solenidade para convidados com presença da embaixadora Paula Alves de Souza, delegada permanente do Brasil junto à UNESCO, que lembrou na sua fala que a Lavagem de Madeleine integra a Rota dos Escravizados da UNESCO. A sessão, com versões em português e francês, reuniu artistas como o cantor Carlinhos Brown, o maestro Giba Gonçalves, do grupo de percussão Batalá e Rui Frati, diretor do Teatro do Oprimido de Paris.
No filme é possível conhecer mais sobre o criador da festividade, bem como a história e das simbologias por trás da Santa Madalena, a partir do olhar feminista da realizadora. Em dezembro, o longa-metragem chega às telas dos cinemas de seis capitais brasileiras, com distribuição da Bretz Filmes.
Sobre o filme “Madeleine à Paris”
Há 6 anos Liliane Mutti, cineasta
baiana radicada em Paris, acompanha os bastidores da Lavagem da
Madeleine e segue os passos de Robertinho, esse artista queer,
andrógino, filho de santo na religião do Candomblé que se tornou a
vedete do Cabaré Paradis Latin de Paris. No filme, Robertinho encarna o
orixá do cortejo afro-brasileiro e à noite, se traveste de arlequim no
show do Paradis Latin. Entre uma edição da Lavagem e outra, ele viaja
para sua cidade natal no Brasil em busca das raízes no Terreiro de
Candomblé Ilê Axé Oju Onirê, liderado por seu irmão, o babalorixá Pai
Pote. Suas andanças entre os dois países, entre o masculino e o
feminino, entre o sagrado e o profano, fazem do filme um profundo
mergulho pela busca de identidade. Ao longo da trama, as vidas de outros
imigrantes vão se entrecruzando com a saga de Robertinho. O filme reúne
um imenso arquivo da festa, desde quando o ritual do Candomblé entrou
na igreja católica, com personagens da diáspora brasileira que levaram o
sincretismo afro-brasileiro para Paris
Sobre a Lavagem
A Lavagem da Madeleine é a maior e mais importante tradição afro-brasileira na Europa.
O cortejo reúne brasileiros e franceses caminhando e dançando em um
percurso de quase 4 quilômetros, desde a Praça da República até a Igreja
da Madeleine, onde lava-se as escadarias da igreja, com água, sabão e
vassouras Nos anos anteriores, um ritual ecumênico acontecia dentro da
igreja até ser interditado pelo padre, essa proibição é contada na trama
do filme, que pouco a pouco, revela os desafios para colocar o “bloco
na rua”. A Lavagem da Madeleine se inspira na Lavagem do Bonfim de
Salvador e há 23 anos fecha o verão europeu em uma celebração que esse
ano reuniu cerca de 100 mil pessoas. Artistas como Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Margareth Menezes, Daniela Mercury já se apresentaram em
cima do trio-elétrico da Lavagem.
Por Marcela Canero