Mestre Bule Bule / Fotos: Filmart / veja na galeria outras imagens da cerimônia de abertura
Bienal do Livro Bahia 2024 é aberta no Centro de Convenções Salvador
fazer a pessoa leitora saborear como é bom nascer em uma comunidade rural, em íntimo contato com a natureza. Servidor público de um órgão dedicado a questões agrárias, Itamar diz que escreveu histórias que espelhavam a vida como ele via.
Pautas como a religiosidade também vieram à tona no papo. Enquanto em 'Torto Arado' o autor ressalta o lado positivo da fé no jarê, 'Salvar o fogo' traz a forma negativa dela. A presença da religião católica dissolve laços comunitários, onde os dogmas viram fonte de desagregação, dividindo os povos entre o bem e o mal. Nisto, quem não se adequa recebe o rótulo de "feiticeira", "bruxa", entre outros.
"A igreja católica teve um peso importante para que o empreendimento escravista e colonial tivesse sucesso. Às vezes, isso fica apagado da memória e, no livro, eu me debruço nessas inquietações. Acho importante tocar nessas feridas para ver o passado, entender o presente e projetar um futuro diferente", disse o autor.
Por fim, Luciany revelou que está escrevendo um novo livro em que a personagem também é uma mulher, vendedora de tecido. A história se passa no Vale do Jiquiriçá no século 19. Itamar também está com um trabalho no forno, mas preferiu guardar segredo.
Arena Jovem - A gente se encontra em Salvador
Com Nath Finanças, Lavínia Rocha e Nega Fyah
O último painel do dia revelou o que jovens mulheres pensadoras da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm em comum. A produtora de slam baiano Nega Fyah, a influenciadora de planejamento econômico Nath Finanças e a escritora e professora Lavínia Rocha falaram sobre protagonismo e feminismo negro em seus territórios.
Autora há 14 anos, Lavínia destacou que o processo de escrita foi fundamental para seu reconhecimento enquanto mulher negra. Seus primeiros livros, publicados quando ainda nem tinha entrado na adolescência, tinham protagonistas brancos. "Levei um tempo para entender minha identidade e isso se refletiu na minha obra", disse.
Nega Fyah se divertiu ao dizer que Salvador é "uma terra descarada": ao mesmo tempo em que lhe dá poesia e referência ancestral, a cidade também lhe tira muita coisa quando as violências de vários tipos a atingem pessoalmente e coletivamente. Ela falou do desafio de lançar de forma independente o livro 'Ancestralitura', obra que desafia o mercado literário tradicional ao colocar as poetisas de slams como escritoras. "Não somos só oralidade", diz.
Nath Finanças comentou que os livros que teve contato sobre os temas de sua área eram praticamente todos escritos por homens brancos e engravatados. "São homens falando para você gastar menos, mas eles não falam para quem não tem renda. Não falam para pessoas pretas. Quando comecei a me especializar, tinha poucas mulheres falando sobre finanças e mulheres pretas não tinham espaço", aponta. "E por que não vemos mulheres pretas falando sobre finanças? Porque não têm a oportunidade que merecem", completa.
Por Ana Geisa Lima