ARTIGO - A História Política recente do Brasil vista por Rocha Martinez
Parte 1
O Brasil de 1964 até então, tem seguido aos solavancos. São mais de meio século vivendo sob o fio da espada, em busca de um equilíbrio que parece inalcançável. Ao olharmos para trás e encararmos o Golpe de 1964 veremos que o movimento foi inspirado de improviso e com pouca orientação normativa, no sentido de direcionar a pátria no contexto das nações desenvolvidas.
Recordemos que na época a 6ª. Frota Naval americana estava estacionada em nossa plataforma marítima, apta a intervir se fosse o caso. Mas, esta possibilidade foi descartada, pois, o movimento de esquerda não estava preparado para revolucionar o país. Faltava tudo: Armas, treinamento, logística, líderes e podemos dizer, até mesmo o discernimento diretivo, que o movimento deveria encarnar e o escopo a ser alcançado.
A começar por alguns políticos podemos traçar um retrato do comando que poderia ser revolucionário. O Presidente da República João Goulart, não se mostrou apto ao enfrentamento, o seu estilo era cavalheiresco. Mesmo antes, ao perceber a pressão esquentar, não se antecipou e deixou a corrente dos acontecimentos seguir o seu curso. Leonel Brizola, da época, ressalte-se, ainda era um líder aguerrido, entretanto, sucumbiu, pois, não vislumbrou apoio aos acenos que enviou e, preferiu exilar-se. A consequência firmou-se em forma de cascata, com Miguel Arraes, Waldir Pires, e inúmeros políticos de envergadura nacional se exilando, muitos deles cassados e outros se acomodaram.
OS PRESIDENTES MILITARES
Após o curto período da interinidade do Deputado Raniére Mazzili assumiu a Presidência o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, em 15 de abril de 1964, que encampou e se responsabilizou pela enxurrada de cassações, inclusive algumas despropositadas, pois, inúmeros políticos, a exemplo de Juscelino Kubistchek, não tinham nenhuma ligação com a chamada subversão de esquerda. Bem, consoante pode se inferir da forma que foi tomado o poder, isto é, um golpe, sem uma articulação prévia, para os atos subsequentes, o governo foi aos solavancos, e, em 15 de março de 1967, expirou o prazo do Marechal e começou o governo do General Artur da Costa e Silva.
Os dois anos, dois meses e meio do governo Costa Silva foi tudo, menos pacífico; acirrou-se as contradições, e, malgrado todas as cassações do governo anterior, enfrentou uma resistência que não esperava: Os estudantes estavam mais organizados, a classe trabalhadora também, pois, ficou mais consciente e rebelde e os intelectuais “pari passu” com a imprensa, regurgitava o sobre as limitações arbitrárias, que não eram bem digeridas, expressando-se através das músicas, poemas, peças teatrais, filmes, livros e reportagens por diversos jornais.
Ressalte-se que a Marinha de Guerra tinha particular ojeriza pelo General Costa e Silva, e, militares de outras armas também expressaram repúdio ao governo. Ora, a situação provocou uma reação fulminante, o regime alegando a contaminação de parte do povo, buscou inseticidas em um dos sequenciados Atos Institucionais, para pulverizar as partes contaminadas. Assim adveio o AI – 5 e, o número de presos, execuções caracterizadas como reações de guerrilheiros urbanos e de exilados transbordou.
O Chile, o México e a França foram os locais preferidos para os que se exilaram, sendo que, posteriormente o Chile, desde o nefasto Golpe de 11 de setembro de 1973, liderado pelo carniceiro General Augusto Pinochet deixou de ser um porto seguro, com a massa dos indesejados se desviando para o México e a França, e, uns poucos dispersando-se para alguns países da Europa.
Mas, eis que, além de um seríssimo problema familiar, o General Costa e Silva passou a ter seríssimas reações de saúde, o que o levou à morte, acirrando a névoa que encobria o Brasil. Os militares nos diversos quartéis ficaram de sobreaviso, inclusive com os soldados dormindo de botas e com os fuzis pendurados ou encostados em seus beliches (fui prova desta situação, pois, servia o exército na época).
Tal situação perdurou pouco tempo, e, a sangrenta Ditadura Militar, articulou um governo provisório, afastando o Vice-Presidente Pedro Aleixo, que somente existia para dar a ideia de que a cúpula do Governo também era formada por civis. Desta forma, os comandantes das 03 (três) armas montou uma junta provisória, a qual permaneceu governando por 03 (três) meses.
Após os 03 (três) meses revolveu-se o mandato tampão, com o Vice-Presidente Pedro Aleixo mantendo o juízo e se conformando com a situação de afastamento, e, em 30/10/1969, assumiu o governo o General Emílio Garrastazu Médici, que continuou fazendo a “faxina” ideológica, mas, graças a uma manietada imprensa, os fatos eram abafados. O seu governo expirou em 15/03/1974.
O Próximo governo foi o do General Ernesto Geisel, que durou 05 (cinco) anos. Talvez, tenha sido o mais preparado, entre os militares que passaram e o vindouro, dos governos desde o de Golpe de 1964. Em sua condução da nação dominou-a com mão de ferro, e demonstrou a sua índole vingativa, mesmo após o período de sua administração, quando passou a dirigir empresas estatais rotuladas de interesse estratégico.
Em 15/03/1979 o sucedeu no rodízio inventado pelos oriundos da caserna, o General João Batista Figueiredo, que, em tese, destoou um pouco dos presidentes anteriores. Mas, não ao ponto de ser considerado um estranho no ninho de águia, que era a cúpula militar Não podemos alcunha-lo de apelidos denegridores, nem ridículos, no que pese algumas expressões como: “preferia o cheiro de cavalo ao cheiro de gente”, ou ainda, “eu prendo e arrebento”, referindo-se a possíveis resistências contra a abertura encetadas por militares da linha dura, mas de crânios reduzidos, que ainda não tinham percebido o que o General Ernesto Geisel, vislumbrara anteriormente, e que, pretendiam manter o “status quo”.
Porém, as expressões tinham endereço certo, pois, era endereçada àqueles recalcitrantes e saudosos, encastelados em suas insígnias, que tramavam contra a abertura preconizada desde o tempo do General Ernesto Geisel. Os tais militares era uma minoria de cabeça de camarões, que não sabiam antever que o regime estava esgotado em seu ciclo e teria um declínio vergonhoso, quiçá uma derrocada trágica, se insistissem em permanecer. Em tempo, bom se recordar das palavras de Carlos Lacerda, quando disse que “nem uma intervenção maciça dos militares americanos reverteria a revolta que poderia ser desencadeada”. Outro militar, o General Golbery do Couto e Silva, criador do SNI, também um político inteligente e equilibrado, dizia que o Brasil era um país muito grande, para ser controlado por uma minoria, que pouco entendia de política.
Rocha Martinez exercitou a advocacia é escritor, tem 04 (quatro) livros escritos, além de ser Contista e Cronista