Vladimir Nascimento, Mestre em Psicologia / Foto: Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO – Por Vladimir Nascimento
Impressionante como existem pessoas prepotentes que se consideram melhor do que outra apenas por ter um cargo superior, pela nuance da pele, ou simplesmente pelo gênero ou orientação sexual. Ora, só existe uma única raça: a humana. Mas, infelizmente, nem todos respeitam os membros da mesma espécie como tal.
Preconceito é ter um conceito anterior àquilo que é desconhecido; é pré-conceber um significado antes mesmo de conhecê-lo. Discriminar é separar, deixar nas margens àquele que não tem valor nem importância, como se fosse um mero objeto ou animal.
Miríades de exemplos que ocorrem cotidianamente podem ser relatadas para ilustrar tal discussão: preconceito racial, quando considera o negro sem condições intelectuais de ser bem sucedido profissionalmente. Tal crença advém desde a época da escravidão e, como tudo que era relacionado ao negro era visto como impuro ou ruim, suas práticas culturais e religiosas também eram desvalorizadas. E aqui entramos em outro tipo de discriminação: a religiosa. Como os afrodescendentes não podiam participar de cultos religiosos dos seus senhores, eles referenciavam seus deuses, através do candomblé. E até hoje perdura a ideia de que tais práticas são demoníacas. Atos abomináveis e louváveis existem em todas as religiões, organizações ou instituições – porque em todo lugar há pessoas boas e ruins. A hipocrisia de todo esse preconceito é que praticamente todos brasileiros são negros ou descendentes, e apenas uma ínfima parcela não são.
Um teste simples pode atestar que tais práticas preconceituosas estão arraigadas e disseminadas em nossa cultura. Basta, por exemplo, pedir a crianças ou adolescentes que fechem os olhos e pensem num ser humano cuja profissão seja um médico; e depois, que imaginem um ladrão estuprador ou um criminoso. Em seguida, é só perguntar quem pensou em um médico negro ou um estuprador branco.
Outra prática discriminatória, infelizmente, tão comum em nossa sociedade é a aversão aos homoafetivos. A homoafetividade não é genética, inata, muito menos uma doença. Não é nem opção, e sim uma orientação sexual. Ou seja, o indivíduo em alguma parte da vida foi orientado – consciente ou inconscientemente – a ter afeições por pessoas do mesmo sexo. Mas o que está em questão é o seguinte: o que faz o homoafetivo ser menos humano do que outro qualquer? Por que crimes brutais são perpetrados contra pessoas simplesmente porque amam outra do mesmo sexo? Por outro lado, por que atos abomináveis acontecem cotidianamente, e sequer são criticados por esses covardes? E por que o “pecado” da homoafetividade é maior e mais escandalosamente criticado do que a hipocrisia, lavagem de dinheiro ou pedofilia?
Como dito anteriormente, existe apenas uma raça. E quem não respeita o outro da mesma raça e espécie, simplesmente por ser diferente (pessoas com deficiência, índios, idosos, mulheres, negros, homoafetivos, etc.), pode ser classificado como animal racional? Pode ser chamado de ser humano?
Vladimir de Souza Nascimento - Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), autor do livro DIFERENÇAS e Palestrante. CRP-03/4531 / WhatsApp: 71 98809-3157