
Nomes da terceira via, João Doria e Sergio Moro ainda não decolaram - Foto: Reprodução Fecebook
Conjuntura Política = Vai ter mesmo terceira via em 2022? / Por Cláudio André de Souza
A pesquisa Datafolha divulgada na quinta, 15, mostra a estabilidade da liderança do ex-presidente Lula (PT) para as próximas eleições. Desde que foi preso em 2018, o presidente manteve o seu capital político, fator que levou, inclusive, os petistas a conquistarem a maior bancada da Câmara, com 56 deputados.
Do outro lado da polarização estão Bolsonaro - eleito no segundo turno de 2018 com 55,13%, mas que agora, na simulação do primeiro turno, alcança parcos 22% -, Sérgio Moro (Podemos), com 9%, e Ciro Gomes (PDT), com 7%. Vale ressaltar que o presidente tem o pior índice de avaliação do seu mandato; agora, 53% consideram o governo ruim ou péssimo, ante 22% que o vêem como ótimo ou bom. O retrato é preocupante para Bolsonaro, já que 2 em cada 3 entrevistados afirmam que o presidente cuida mal do país, e 60% afirmam não confiar nas suas declarações públicas.
E a terceira via? Do ponto de vista eminentemente conceitual, representa a instauração de uma força eleitoral concorrente diante de uma forte polarização, expressa regularmente entre direita e esquerda. Logo, no âmbito da ciência política, a terceira via refere-se a candidatos “centristas”, um movimento de forças político-partidárias de revisão dos ideais socialistas que vigorou a partir dos anos 1990, tendo em vista as transformações profundas do capitalismo e o avanço da globalização.
A adesão aos preceitos neoliberais, neste período, por nomes de peso como Tony Blair, do Partido Trabalhista britânico, e o alemão Gerhard Schröder, do Partido Social-Democrata, marcou a chegada de uma new wave que em nada explica a conjuntura brasileira e os candidatos que temos. Sergio Moro em terceiro, com 9%, e João Doria em quinto, com 4%, não vieram do campo ideológico socialista. Com efeito, passamos a chamar de terceira via simplesmente uma terceira força concorrente em termos eleitorais.
A pesquisa Datafolha retrata uma terceira via esmagada pela polarização e com um agravante: ela embarcou no bolsonarismo em 2018; Doria se aliou a Bolsonaro e desequilibrou a seu favor a disputa com o governador de São Paulo à época, Márcio França (PSB). Já Sergio Moro largou seus serviços na força-tarefa da Lava Jato e correu para virar ministro do novo presidente, rompendo apenas quando viu que seu ministério foi sequestrado pelo Planalto, que fez de tudo para soterrar qualquer projeção do ex-juiz como um possível concorrente do presidente para as eleições de 2022.
A jabuticaba brasileira está no fato de termos uma terceira via, governista até outro dia, que vira e mexe negocia emendas e cargos. Isso explica o fracasso nas pesquisas. Faltam independência do governo, enraizamento social e um projeto de país, que comece se afastando totalmente do cálice tinto do bolsonarismo.
*Cláudio André de Souza é professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
Publicado ontem (19) em A Tarde