Psicólogo e Mestre em Psiocologia, Vladimir Nascimento / Foto: Arquivo O Candeeiro
Crises de ansiedade
Ansiedade, numa linguagem popular, significa estar à frente de algo; ou seja, é quando o indivíduo passa a vivenciar antecipadamente uma situação que nem sabe se vai ser concretizada, ou quando começa a sofrer por um problema sem nenhuma garantia de que ele vai ocorrer. Isso significa que a pessoa deixa de viver o presente em prol de um futuro que talvez nem aconteça.
Mas geralmente o indivíduo não tem controle sobre essas emoções, e nem sabe a origem desses sintomas psíquicos. É importante frisar que o ser humano frequentemente vivencia episódios de ansiedade durante o curso de sua vida, mas o excesso pode causar até mesmo um transtorno de ansiedade ou síndrome do pânico, devendo ao mesmo buscar ajuda profissional.
No entanto, em nosso mundo repleto de pressões e cobranças (externas e internas), ainda somos bombardeados de informações sobre o terror, guerras, assassinatos e crimes variados reforçando nossos medos e impedindo-nos de aproveitar a vida em função desses temores. A violência sempre fez parte da humanidade, mas talvez nem seja o número da criminalidade que esteja aumentando, e sim a quantidade de informações veiculadas sobre ela.
Essas inúmeras informações certamente contribuem para aumentar nossa sensação de insegurança, ansiedade e até mesmo pânico; porém se analisarmos com cautela iremos perceber que na verdade não é bem assim. Atualmente morrem mais pessoas por suicídio do que pela guerra ou atos terroristas. Em 2012, por exemplo, morreram no mundo inteiro 56 milhões pessoas, das quais 620 mil foram devido à violência, 800 mil por suicídio e 1,5 milhão por causa da diabetes. Ou seja, morreram mais pessoas por falta de cuidado com a saúde do que por assassinato e suicídio.
Geralmente o ser humano tende a valorizar mais os defeitos que as qualidades, e se impressionar mais com aspetos negativos do que os positivos. Por isso, a sensação constante de que o mundo é perigoso demais para se viver. Obviamente que em um dia muitas pessoas matam, mas sem dúvida existem outras bilhões que dormem tranquilamente sem agredir ninguém. Sempre haverá pedófilos, por exemplo, mas também podemos contar com bilhões que não concordam em violentar crianças. Portanto, no mundo, existem infinitamente mais pessoas boas do que más.
O mesmo pode-se dizer em relação aos acidentes aéreos. Quando um avião comercial cai é algo tão raro que imediatamente é noticiado pelo jornal, mas muitas pessoas tendem a generalizar o episódio como se o avião fosse um meio transporte inseguro. Muito pelo contrário: em 2017, por exemplo, houve milhões de voos em todo o mundo, e apenas dez acidentes ocorreram– nenhum deles foi um voo comercial. Enquanto que no mesmo período 1,3 milhões de pessoas morreram nas estradas de todo o mundo.
Ninguém está imune à ansiedade, porque ela é um problema real; mas também não podemos alimentar essas sensações deixando-nos impressionar pelos aspectos negativos que a vida nos oferece. As adversidades fazem parte da vida, mas é importante também que comecemos a valorizar os indicadores positivos dela, assim como um relacionamento não pode ser caracterizado pelas discussões e sim pela coleção de momentos vividos em harmonia. Mas, infelizmente, como dizia Shakespeare, ainda sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), autor do livro DIFERENÇAS e Palestrante.
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