Psicólogo e Mestre em Psiocologia, Vladimir Nascimento / Foto: Arquivo O Candeeiro
ARTIGO - Sobre perdas, mortes e luto – Por Vladimir Nascimento
Felizmente, a vida é feita de perdas e ganhos. Pois, são as frustrações, as perdas, as anulações dos desejos, que permitem ao ser humano almejar novos rumos e alcançar objetivos antes tidos como impossíveis.
Toda escolha envolve renúncias. E quando a decisão por algo é adotada, outras infindáveis possibilidades são deixadas para trás; e o ser humano, desde criança tem que estar preparado para essas frustrações. Aprendendo a lidar com pequenas perdas, outras maiores (como a morte) serão menos difíceis de enfrentar.
A inevitável sentença da morte é talvez o medo mais presente no cotidiano das pessoas. Porém, negar essa realidade é também um mecanismo de defesa que não significa uma melhor qualidade de vida, ao contrário, quanto mais mal vivida é a vida, maior é a angústia de morte. Segundo Epicuro, um grande filósofo do século III a.C., muitas vezes tendemos a disfarçar a morte de várias maneiras: através de uma religiosidade excessiva, acúmulo obsessivo de riquezas, desejo cego de poder e honrarias.
Mas a morte não pode ser um tabu, e sim explicada desde a infância – obviamente com uma linguagem específica para a faixa etária. Imagine a angústia sofrida por um infante caso venha a falecer algum ente querido seu. Porém, a angústia será maior ainda se tal infortúnio não for explicado, pois a criança pode fantasiar várias possibilidades: até mesmo acreditar que seu parente morreu em função de algo desagradável que ela fez ou que deixou de fazer – ou seja, por culpa sua.
Nenhuma perda é fácil de suportar, porém é possível superar. Seja uma separação; perda de um emprego; morte de alguém querido, o mais importante é tentar lidar com a realidade sem tentar disfarçá-la. Evidente que a primeira fase do luto é a negação, não obstante é passível de ser superada – se não por forças individuais, através de uma ajuda profissional, para reorganizar e ressignificar sua vida.
Inúmeras pessoas temem arriscar ou viver plenamente com medo das frustrações, das perdas, da morte. Ora, certamente, não se pode viver sem limites, porém não esconder as potencialidades, tentar algo novo, aceitar que a vida pode ser recomeçada (mesmo numa idade mais avançada), perceber que algo inovador pode ser construído são apenas alguns dos requisitos para viver sem se preocupar com o fim da vida. Aqueles que assim vivem, certamente não negam a existência da morte, mas entendem que, quando ela chegar encontrará apenas a matéria corporal de uma vida que foi aproveitada em sua plenitude.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), autor do livro DIFERENÇAS e Palestrante.
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