Foto: Arquivo Pessoal
CONTO - Lavador de carros – Por Evandro Barbosa
Véspera de uma viagem. O automóvel estava com pouca gasolina e um tanto quanto sujo. O motorista fez uma ligeira pesquisa e anotou que em um posto próximo a sua casa estavam dando uma ducha de brinde para quem colocasse vinte litros ou mais, sendo que a ducha seria efetuada pelo próprio comprador.
Quase ninguém aceitava o brinde. Um ou outro fazia uma meia sola, isto é, limpava superficialmente quando a sujeira era muito evidente e dava uma aparência desagradável ao carro.
O motorista, de nome Vinicius, aproveitou e encheu o tanque. Não quis ficar no bar esperando a sua vez de começar a limpeza. Como que enchia o tanque com uma quantidade acima de vinte litros, a empresa disponibilizava a aspiração interna, que também teria que ser efetuada pelo cliente. Como dispunha de tempo suficiente, fez uso do aspirador que, diga-se de passagem tinha um aspecto de profissional. Realmente tinha uma grande potência no item aspiração. Como iria empreender uma viagem com toda a família, achou por bem fazer a limpeza completa.
Como não tinha muita experiência com o uso do aspirador, o serviço não foi tão fácil e nem tão rápido.
Depois de muito esforço, eis que o carro ficou uma belezura. Faltava a parte externa.
Mesmo depois de terminar teve que esperar desocupar a máquina para iniciar a limpeza.
Passado algum tempo, após o término da lavagem do carro que estava à frente, eis que surge a vez de Vinicius começar a sua lavagem.
Como nunca tinha usado uma máquina daquele tipo, pediu uma rápida instrução ao frentista no tocante ao uso. Após rápida demonstração, iniciou os trabalhos.
Nisso, chega um senhor, senta no bar, pede alguma coisa que Vinicius não soube distiguir o que era, e ficou a observar a execução da tarefa.
Depois de algum tempo, pediu uma água mineral e continuou sentado.
A ducha demorou mais do que era esperado. Por fim, Vinicius percebeu que estava na ora de iniciar a secagem e com a flanela que sempre levava no porta-luvas, iniciou muito lentamente a enxugar o automóvel devido ao cansaço.
Terminada a tarefa, dando-se por satisfeito, ficou a admirar a aparência do carro. Brilhava como se fora novo.
Eis que ouve ao longe: ô negão, lave o meu também!
Fez que não ouviu, entrou no carro e saiu satisfeito com o trabalho que havia realizado.
Nervoso, o cliente que chegou depois e queria ter o seu carro lavado saiu a gritar com o frentista: ó, o negão tá usando carro de um cliente sem autorização!
Ao que o frentista respondeu: não moço, o carro é do Dr. Vinicius, nosso cliente.
Ué! Aquele negão é doutor?! Lavando o próprio carro!?
Evandro Barbosa é funcionário aposentado a Justiça do Trabalho