Foto: Arquivo pessoal
CONTO - A Morte de Petilda – Por Evandro Barbosa
Já não chovia há cerca de um ano. A terra parecia tremer de calor. Os últimos resquícios de umidade estava evaporando muito mais rápido.
Ao longe, pequenos redemoinhos levantavam a poeira. O vento quente empurrava as palhas secas até encontrar um obstáculo. Às vezes o obstáculo era um galho que ainda não fora recolhido para alimentar o fogão à lenha. O galho, que a pouco tempo fazia parte de uma árvore que gerava sombra e frescor para o gado que à época ainda era luzidio e gordo. O galho retinha as palhas como se fosse uma tábua de salvação. Naquele ponto, quando a chuva chegasse, seria um local onde surgiriam as primeiras brotações de todas as sementes que resistissem a inclemência do clima.
Contemplando o cenário, estavam Joazito e Petilda. A conversa entre os dois era monossilábica. Às vezes um hum... outras um é encompridado. Nunca passava disso. E o tempo passando lento e modorrento. De tão absortos, nem percebiam o calor infernal que estava a fazer àquela época do ano.
Eis que surge o filho mais velho do casal, que a exemplo dos pais, não era de muita conversa.
- Ça, pai.... ça mãe..., sempre nesta ordem. Os mais velhos a benção seria pedida pela ordem cronológica dos presentes.
- Bençoe, para os momentos de bom humor, que eram raros. O normal era “çoe”... arrastado como que para se estabelecer um certo distanciamento e indagações.
Vivi, era assim que era chamado por todos. Poucos sabiam o seu verdadeiro nome. (O seu nome completo era Vivaldo Pereira da Silva).
Sentou-se em uma cadeira que permanecia na varanda, de uma forma que lhe era muito peculiar. Colocava o encosto entre as pernas, cruzava os braços no espaldar e apoiava o queixo nas mãos.
Depois de algum tempo, resmungou algo ininteligível, retornou ao interior da casa e, ao voltar, retinha em uma das mãos, a velha espingarda de socar.
Falando sozinho, disse: vou ver se consigo alguma coisa. Já não falava o nome da caça.
A mãe, vendo-ô sair disse:
- Ô bicho besta, não vê que a seca acabou com tudo.?
Ouviu, fingiu não ouvir. Seguiu no seu propósito.
Andou até não aguentar mais. O cansaço e a sede era insuportáveis.
Retornou à casa sem uma coisinha.
Só restava ser selecionado para as frentes de trabalho.
Falou com a mãe: só resta esperar a resposta do coroné.
A mãe, bastante orgulhosa respondeu de forma nervosa: Deus me livre! Filho meu não vai colocar pedra na cabeça e ficar andando de um lado pra outro!
Só depois da minha morte!
Evandro Barbosa é funcionário aposentado da Justiça do Trabalho