Foto: Arquivo Pessoal de Vladimir Nascimento
ARTIGO - A ILUSÃO DA MERITOCRACIA – Por Vladimir Nascimento
A palavra meritocracia vem do latim mereo, que significa merecer, ser digno de algo. É como se uma pessoa, a partir dos seus esforços, estudos, trabalho, tivesse um reconhecimento e ocupasse um lugar de destaque na hierarquia da sociedade.
Porém, na prática, esse tipo de recompensa social em função de um comportamento é mera ilusão. Nem sempre o melhor aluno da turma, o que tira as melhores notas será, futuramente, o profissional mais competente na sua área de atuação. Nem sempre os melhores profissionais recebem os maiores salários ou tem as melhores condições de trabalho, mas talvez aqueles que são protegidos pelo chefe, ou os que têm interesses em bajular alguém para, de alguma forma, ser beneficiado.
No Brasil, por exemplo, onde a educação é relegada, vista como algo supérfluo, não é incomum encontrarmos trabalhadores sem quaisquer níveis de escolaridade, mas com salários absurdamente maiores do que aqueles que se esforçaram psíquica e financeiramente para aprender. Por exemplo, um jogador de futebol, mesmo que seja analfabeto e que nem saiba falar minimamente sua língua portuguesa, geralmente ganha infinitamente mais que um professor ou um médico.
Não estamos, com isso, depreciando qualquer profissão, visto que todas são importantes e válidas; porém, em nosso país, estudar para ascender profissionalmente é um mito. Em outras nações mais desenvolvidas, o investimento educacional é massivo desde a mais tenra infância, e à medida que o indivíduo vai crescendo, estudando, se aperfeiçoando, vai sendo valorizado moral e financeiramente. Tais iniciativas governamentais não são em vão, tem um propósito e uma lógica: quanto mais valorizado for o trabalhador mais ele será motivado a estudar, aprender, inovar e, consequentemente, fazer o país avançar de forma significativa.
Mas, enquanto vivemos nesse retrocesso no Brasil, será raro encontrarmos estudantes ou profissionais que queiram se aperfeiçoar, pois sabem que dificilmente terá um retorno esperado. Muito pelo contrário, pode haver uma exploração excessiva do trabalhador através do assédio intelectual (utilização indevida das habilidades do colaborador, sem o devido reconhecimento financeiro), desencadeando doenças como estresse, transtorno de ansiedade, depressão.
E na esfera pública essa desvalorização é ainda pior, mas a lógica é bem mais fácil de entender: o cargo político geralmente é mais valorizado financeiramente que o PHD porque, afinal, é isso que dá voto e, consequentemente, faz com que eles permaneçam no poder.
Vladimir de Souza Nascimento
Psicólogo, mestre em Psicologia (UFBA), autor do livro DIFERENÇAS e Palestrante.
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